LONDON SESSIONS - HOWLIN WOLF

Eu não gosto de blues chique. Aquele tipo de blues feito nos anos 80, para publicitários e jornalistas. Muito bem gravado, solos cristalinos, vocais macios. É entediante. Chato. Nega tudo que o blues de fato é: música tosca. ------------- O blues é tosco porque em seu espírito há pouco espaço para invenções. São poucos acordes que se repetem, frases que fazem eco, temas sempre os mesmos. O que o redime, o que faz do blues algo de apaixonante é sua paixão, sua verdade, o perigo. Perigo porque o blues de verdade vive na margem, no limite, na quase marginalidade, no outlaw. ------------- Howlin Wolf tem a voz do perigo, da briga, da ofensa. É sujo. Dizem que ele batia nos músicos que errassem. Dizem que ele era forte como um touro. Dizem lendas e blues são lendas turvas. Em 1970 resolveram lançar, na Inglaterra, uma séries de LPs em homenagem aos mestres do rock e do blues. London Sessions. Músicos famosos acompanhando os veteranos. Falam que o dedicado a Bo Diddley foi um desastre. O disco de Chuck Berry um sucesso de vendas. E este, o de Wolf, o melhor. Quem o acompanha é Charlie Watts e Bill Wyman, Ian Stewart e Steve Winwood, e ainda Eric Clapton na guitarra. Generoso, Clapton sola pouco, o disco é do veterano. E é selvagem. A voz de Wolf repercute como voodoo. É blues de verdade. Safado e no fio da faca. Uma pistola na sua testa. Howlin Wolf foi, ao lado de Muddy, o melhor de todos.