DUAS OU TRÊS GRAÇAS - ALDOUS HUXLEY
Novela lançada em 1926, começamos a ler e logo encontramos o modo do Huxley dos anos de 1920: levemente satírico, bem descrito, vasto, elegante, crítico com discrição. O narrador, um jornalista bem estabelecido ( em 26 a profissão de jornalista ainda era digna ), homem racional, calmo, sem paixão. Bondoso. Ele reencontra um colega de universidade, um homem horrivelmente chato. Nesse ponto pensamos que o texto será focado nesse chato, uma crítica às pessoas enfadonhas. Mas não. O foco muda para o marido da irmã desse chato, um outro chato e lemos tudo sem sentir chatice nenhuma. É uma delícia. Surge então a irmã do primeiro chato, esposa do segundo chato e o narrador começa a sair com ela. O foco muda mais uma vez, achamos agora que o tema é o romance entre os dois. Eles vão a concertos, a museus, ela se abre com ele e o narrador percebe ser ela uma pessoa bondosa e vazia, uma criança entediada. Mas não se envolvem, a amizade é real. O foco muda. Ele a leva a conhecer um charlatão, um pintor modernista da moda. O foco agora é outro, é uma sátira ao modernismo vazio, modista, fake. Ela se envolve com o pintor e vira sua amante. Ela muda, se torna uma mulher moderna, liberada, sem culpa. Nela há o impulso por imitar e ela imita ao artista. Não há amor, ela se volta, como faz o pintor, ao hedonismo total. Mas o artista termina e ela fica sem chão. Passa a flertar com todo mundo, se torna quase vulgar. E então conhece mais um amigo do narrador, o intenso Kingham, um sádico. ----------------- Nesse ponto, nas últimas 30 páginas, o livro desanda. Huxley não é bom em histórias de paixão verdadeira, ele brilha como narrador filosófico. De todo modo, eis uma novela que se lê depressa, com vivo interesse, onde todo personagem parece vivo e temos vontade de, em certas páginas, dizer que se trata de uma obra prima. Mas não é. O que fica é um quase no ponto.