KONSTANTINOS KAVÁFIS
Quando li Kaváfis a primeira vez, anos atrás, eu ainda não havia lido tantos livros de Durrell, e então Alexandria não significava muito pra mim. A cidade do Egito que é mais Grécia que Egito, era, é o lugar da vida e da poesia do grego Kaváfis. Doce mundo europeu de antes da Primeira Guerra, mundo onde as nações se misturavam, onde cada cidadão era filho de uma tradição não de um lugar. Kaváfis ,um dandy, é repleto do sexo proibido de Alexandria, o encontro sujo, sórdido, apressado e por isso mesmoa sensual ao extremo. ---------------- Há quem compare Kaváfis à Pessoa porque ambos não foram conhecidos em vida, ambos falavam inglês quando crianças, ambos eram gays dandys contidos. Mas há um planeta de diferença entre eles, pois o grego tem apenas uma culpa que ele mesmo diz durar apenas uma semana, enquanto o lusitano é culpa de gerações. Kaváfis fala de seus encontros homossexuais sem nenhum pudor e louva a beleza jovem dos moços que ele caça. Pessoa jamais. ----------------- Há calor na poesia de Kaváfis e há sensualismo grego. O encontro de uma alma que ansia por beleza perfeita e corpos que se entregam a animalidade passageira, e irresistível. Não há angústia, talvez saudade da Grécia antiga, por isso ele se transporta a momentos históricos. E vive aí o melhor de sua obra, ele não tem tempo, Nero e Ptolomeu, Julio César e os automóveis da rua, todos vivem no mesmo tempo e na mesma vida que os engloba: a poesia. Sim, a melhor poesia vence o tempo e Kaváfis faz isso sem forçar nada. Eis Calígula alí enquanto lá Espartanos lutam contra Xerxes. E é 1910 agora. E é aqui 2024. E tudo está certo porque tudo existe aqui e agora. É assim. Alexandria para sempre.