SILVIO SANTOS

Num país miserável em self made man, SS reinou sozinho. Sim, tive minha fase de o odiar. Ele era um direitista, fascista, explorador etc. Felizmente logo vi a verdade, ele foi um gênio em seu modo. Pois se ser genial é atingir o grau máximo de excelência em seu campo, Silvio foi um homem genial. Ele ria. Ele tinha uma voz maravilhosa. E ele criava jeitos e trejeitos sem parar. Ninguém foi tão Brasil como ele. Brasil no melhor. ------------------------ Em casa se assistia Silvio Santos até 1975. Quando ele saiu da Globo meus pais desistiram dele. Voltaram a assistir nos anos 90. E eu o descobri só nos anos 2010, já velho, e na minha opinião, melhor que nunca. Debochado. -------------- Por detrás do riso era um judeu sério. Suas falas filosóficas são as da religião. Não ostentar. Ter pouco. Trabalhar sempre. Caridade. Poupar. Procriar. O público intuía isso tudo em sua figura. Por mais palhaço que fosse, ele era sério. Por detrás do riso, nunca falso, ele era feliz, sabia ser sortudo, Deus estava com ele, as pessoas sentiam a solidez do pai. Distribuindo bençãos e dinheiro, Silvio era o pai ideal, feliz, rico, austero, comunicador. E que jamais falhava. Todo domingo ele estaria lá, pontual, fazendo seu trabalho perfeito, exato, correto. Por isso, em sua morte, há muito de orfandade em todos nós. Mesmo não assistindo mais, e quantos de nós deixaram seus pais para trás?, sabíamos que Silvio lá estaria, em seu lugar, na TV. Domingo esse Pai-ator-animador-humorista, estaria na sua casa, sem faltar, sem errar, sem te abandonar. Bastaria sintonizar. -------------- Em país tão carente de pais, de paz, de lares, Silvio era o pai sorridente que consola. -------------------- Impossível haver outro porque hoje somos outros. Não mais queremos um pai, desistimos, e por isso nossos animadores de TV mais parecem colegas de colégio que gente da nossa família. No Brasil família do passado, Chacrinha era o avô maluco, Flavio Cavalcanti o tio chato, Bolinha o tio do buteco e Silvio o pai que a todos contenta. Dos mitos brasileiros, só Roberto Carlos, o namoradinho da filha, está aqui. O Brasil, como diria Rimbaud, é agora um outro. E bem pior.