AS PORTAS DA PERCEPÇÃO e CÉU E INFERNO - ALDOUS HUXLEY

Em 1956, Huxley experimentou Mescalina com a assistência de médicos e cientistas. Esses dois livros narram suas impressões. Longe de ser algo que se pareça com o desbunde de um hippie, Huxley, sóbrio, culto, tranquilo, divide conosco o que aprendeu. --------------- Primeiro ele diz, embasado em história mundial, que não há sociedade sem suas drogas. O que nos cabe é escolher a menos nociva à saúde. Alcool, nicotina, doces, café, maconha, cocaína, mescalina, ópio, todas são drogas mais ou menos venenosas, mais ou menos perigosas, mais ou menos compensatórias. Mas....vamos começar pelo começo....Huxley começa com sua teoria sobre o cérebro e sua função. Para ele, o cérebro não cria nada, ele é na verdade um filtro. Treinado em focar apenas no que é util e funciona, real e pragmático, ele, o cérebro, impede que tudo que seja "do outro mundo" entre em nossa consciência. --------------- O homem, preso dentro desse mundo utilitário, se sente sufocado, ressecado, automarizado. A droga alivia sua prisão. Todas são uma tentativa para interromper a atividade discriminatória do cérebro, e assim, tomar contato com o lado de lá. ---------------- Huxley então toma mescalina e vê cores puras. Ele olha os objetos da sala e fica fascinado com suas cores e suas formas. Como não fazia desde a infância, as cores lhe parecem absolutas, as coisas são um universo em si mesmas, tudo ao redor parece uma prova de eternidade. Depois, de olhos fechados, ele visualiza brilhos, luzes, formas minerais que emitem luz própria. Um mundo de cores, de minerais e de imagens hiper detalhadas. --------------- De volta da viagem, Huxley passa a dissecar o que viu e o que sentiu. Suas conclusões são fascinantes. ----------------- Por que toda civilização sentiu fascínio por joias, pedras, cores, ourivesaria, metais que brilham? Porque ao cavar a terra w entrar no fundo do mundo, nós resgatamos o que vive no fundo de nossa mente: as formas que brilham, os diamantes, o ouro, o topázio, o lápis-lazuli. O homem quer o ouro porque ele vale muito, mas ele vale muito porque brilha como brilha sua alma. ---------------------- Então Huxley fala do fascínio que sentimos pela cor e pelo espaço infinito, pela paisagem imensa, ou em oposto, pela imagem microscópica, pelo detalhe ínfimo. Resumindo o que ele diz, todo nosso fascínio nasce por coisas que nos recordam a morada de nossa alma. Huxley não tem dúvida alguma disso: nossa consciência tem um céu e um inferno e ambos vivem além do cérebro, orgão que existe apenas para impedir nosso acesso à eles. Céu e inferno são imagens de cores, pedras, detalhes, horizontes ( fosse hoje ele diria do Cosmos ). Almas há que sentem felicidade nesse ambiente, algumas sentem horror. Céu e inferno, não são lugares, são a sua reação aquilo que é o infinito. --------------------- Eu sempre recordo, e já falei aqui, da capa de um livro de Peter Pan que tive na infância. Ele tinha um azul noturno, o céu de Londres onde Peter voava, que é para mim a imagem mais linda da eternidade. Entenda, não é o céu de Londres, é aquele azul. Pois bem, por eu ter sentido isso, eu entendo Huxley mesmo sem jamais ter tomado mescalina ou LSD. O azul, a cor pura, sem simbolizar nada, sem dizer nada, sem ser signo de nada, apenas o azul, sem verbo e sem momento, sem tempo, azul que é um lugar sem fim, azul, esse é o paraíso: uma cor, um brilho de rubi, a chama de uma vela, um ponto no céu, o brilho do ouro. ------------------- entendeu?