REI, VALETE E DAMA - VLADIMIR NABOKOV

Eu não gosto muito de romances sobre mulheres insatisfeitas no casamento. É um dos temas mais banais. Apesar de amar Anna Karenina, livro que é muito mais que isso, escritores escrevem demais sobre esposas sedentas e maridos desatentos. Nabokov, em seu segundo romance, usa esse tema. E compõe seu livro mais simples, e segundo ele, seu texto mais feliz. -------------------- Um jovem alemão encontra num trem um homem esnobe e sua esposa deliciosa. Nada acontece, mas ao ir pedir emprego a seu tio rico, ele descobre que o casal no trem são seu tio e sua esposa jovem. Tímido, ele passa a trabalhar numa das lojas do rico comerciante, e acaba sendo seduzido pela esposa, mulher entediada que entra na relação por moda. O marido, na verdade ele é o personagem mais interessante, e nisso há uma originalidade nabokoviana, mal percebe o que se passa, ocupado que está em negócios e ir a seu clube. ---------------- As primeiras 50 páginas são brilhantes. Nabokov descreve a viagem de trem de uma maneira impressionista que nos faz querer que o volume todo fosse apenas isso, a viagem de trem. Um desfilar de sensações, imagens e intuições que quase nos hipnotizam. Mas depois vem o caso de sexo corriqueiro, e isso faz com que Nabokov quase caia no lugar comum. Mas não cai. É um autor de gênio. ---------------- Eis um bom livro para quem quiser ler um Nabokov fácil.