LENDO UMA FOTO

em 1968, Jack Cardiff fez um filme, A GAROTA DA MOTOCICLETA. Alain Delon estava no filme. Marianne Faithfull também. Na época ela era noiva de Mick Jagger e na foto, do lançamento do filme, vemos Delon, Faithfull e Jagger em um sofá. ---------------- Delon, belo como sempre, usa um terno impecável e meias de seda. Os sapatos brilham e seu sorriso transmite absoluta confiança. Ele, em apenas um clic, revela dois conceitos caros aos franceses: savoir faire e joie de vivre. Ele sabe o que está fazendo ali e domina seu corpo e a situação. E ao mesmo tempo, por parecer contente, nos faz sorrir. O modo como ele cruza as pernas expõe masculinidade sem neurose e nas mãos ele segura cigarros e isqueiro, pronto para acender mais um. Ele galanteia Marianne, joga sobre ela o charme de um Homem esperto, vivido, tranquilo. --------------- No lado oposto vemos Mick Jagger. Os sapatos sujos, as meias que não formam par, o rosto encimesmado, as roupas amassadas. Tudo nele revela derrota. As pernas cruzadas parecem encolhidas. Ele se roi de ciúmes, não necessariamente de Marianne, mas de Delon, daquele Homem da velha guarda, apenas 10 anos mais velho que Jagger, mas que espiritualmente parece 100 anos mais seguro. --------------- Ao fim eu percebo: Jagger, em 1968, é um jovem de 2024 perante um homem de 1960. Toda a insegurança, mal humor, fragilidade, masculinidade hesitante, estão expostas em Jagger. -------------- Quanto a Marianne, bem... ela ama a situação. Feminista do tempo em que o termo ainda tinha algo de inteligente, ela sorri do seu homem tão bobo, e se deleita com a atenção do astro mais desejado do mundo, Delon. Sim, esta foto é um testemunho de uma transição, de uma nova época que nascia e insiste em não se ir.