O PRAZER ESTÁ NO CAMINHO. E ISSO É VERDADE.
Ir é sempre melhor que lá chegar, se a vida nos desse, no momento em que algo é desejado, sua satisfação, ela nada valeria. 2024 se aproxima cada vez mais da satisfação imediata. Pior, as pessoas não olham mais o caminho, elas focam o alvo e se distraem durante o caminho. Desse modo, um amor só vale se o sexo vier rapidamente, o diploma só interessa se o curso terminar depressa. Deixe eu explicar: havia um prazer em se conhecer alguém, em observar os modos desse alguém, em absorver sua história. Cada passo era usufruído. O mesmo se dava em uma escola, numa amizade, até mesmo no caminho que se fazia dentro da cidade. No trajeto entre o Itaim Bibi e minha casa, oito quilômetros, eu tinha gosto em olhar meus companheiros de veículo, os bares lotados, as lojas fechando, a vida nas ruas sempre cheias de coisas e de gente. A vida era um PERCURSO e nunca um fim. ------------------ Penso tudo isso ao ver fotos de um site sobre a cidade de Santos. Algumas fotos antigas, dos anos de 1970, mostram a alegria que eu testemunhei na estrada. Engarrafamentos monstruosos em que saíamos do carro e trocávamos água, comida e cerveja com os carros vizinhos. Parar no caminho, ficar preso, era motivo de reclamação, óbvio, mas lembro que quando não havia engarrafamento sentíamos que algo havia sido perdido. -------------- Nos túneis os carros buzinavam por pura alegria e era comum se parar nas bicas de água do caminho. Ou nos restaurantes. A viagem, falo da Anchieta, era parte da diversão, o prazer começava ao se colocar a mochila dentro do carro, ao ligar o motor, ao encher o tanque. Depois vinha fila na Ponte Pêncil e São Vicente, uma hora comprando água e queijadinhas, eu sentia que meu pai descia a Serra só pra comer as queijadinhas da Ponte. ---------------- Então surgia a cidade de praia, as lojas com pranchas e cadeiras de praia, a padaria onde a gente parava sempre. Pressa nenhuma de chegar, olhos, ouvidos e a alma despertos. O cheiro de mar, o calor aumentando, o trajeto como prazer, o objetivo como consequência e não como meta ansiosamente fixada. Como humanos, não nos prendíamos ao alvo, nos abríamos à tudo ao redor. ---------------- Era lindo.