MICHEL DELALANDE - TE DEUM, SUPER FLUMINA, CONFITEBOR TIBI DOMINE. LES ARTS FLORISSANTS- WILLIAM CHRISTIE

Com marcação forte de percussão e orquestra comandada pelo trompete, logo nossa alma se eleva e percebemos: mais que música religiosa, o que ouvimos é arte ARISTOCRÁTICA. ---------------- Nada pode ser mais distante de nosso pobre mundo miserável de 2023 que a arte aristocrática de 1690. Na vulgar música do século XXI, a única regra é causar sensação e assim, tendo por alvo o que é mais comum à massa, ganhar notoriedade ao ouvido de milhões. A música pop, mesmo a mais sublime, e voces sabem que amo o POP, sempre teve por alvo os ouvidos de milhões, a diferença é que um Sinatra ou um Elton John, criados dentro de uma escola que prezava o gosto e a alegância, tinham pudores e assim revestiam o seu POP com sedas de gosto refinado e disfarces bem tramados. Era um POP com sombras de arte e rimas de poesia popular, porém bem informada. Agora não. O popular é assumidamente vulgar. Não há mais vergonha alguma em ser grosso. ---------------- Na música aristocrática o alvo não são os milhões de orelhas das ruas, antes, as orelhas mais bem formadas, as orelhas que são ouvidos. Delalande não canta ao milhão porque para ele esse milhão nem mesmo existe, ele compõe para o rei ( Luis XIV e Luis XV ) e acima de tudo para Deus. O resto não importa. ------------------- É música extremamente bem feita, que segue todo um código, leis, regras, mandamentos. Isso a faz perfeita. Sim, ela nunca surpreende pois não quer ser "nova", estamos longe do tempo de Beethoven, é música que quer ser "digna". E ela é. -------------------- Quando a arte deixa de ser aristocrática, com o romantismo, e se torna "popular", muita coisa genial assoma, e no meu tempo, há o jazz, o cinema e o rock, talvez os pontos finais da arte POP. Mas o pós POP, aquilo que nasce após o rock, a TV e a internet, é arte que se assume vulgar, suja, desarrumada, repetitiva, tola, banal. E porque não? Analfabeta. O orgulho em ser Popular se tornou orgulho em ser iletrado. Se antes o artista POP era formado em literatura leve, música de cinema e o folclore do blues, do soul ou do samba, agora ele cresce em meio aquilo que já é diluição da diluição. É como se em vez de vinho ele bebesse água com refirgerante e nos desse refrigerante com mais refrigerante e bastante açucar. --------------------- Delalande é tão distante deste nosso mundo que parecerá surpreendente. Mas creia, ele é antigo como uma missa. E é uma benção aos nosso ouvidos. Para ele, orelhas não existem.