MEUS PRÊMIOS - THOMAS BERNHARD
O melhor livro para começar a adentrar o mundo de Bernhard é este. Apenas 108 páginas onde ele narra pequenas histórias sobre as atribuições de seus prêmios. Tudo escrito naquele estilo fluido, de página sem parágrafos, onde ele escreve como pensa, frases e palavras se repetem, e tudo nos causa encanto e não, jamais aversão, causa encanto, não aversão. só encanto. ( Dei aí um pequeno exemplo de como se faz essa repetição que remete sempre ao humor essa repetição ). -------------------- Bernhard é terrível ao mesmo tempo! Ele odeia todo mundo e nesse pessimismo agressivo eu me lembro de Houllebecq. Mas, em que pese a lembrança, apesar de companheiros de negatividade, os espíritos são diferentes. O francês é mais....francês. Mais elaborado, verborrágico, e com alguma esperança. Bernhard é Bernhard, não há nele um caráter nacional, nada de alemão ou de austríaco, ele é um individualista radical. --------------- Fugindo de associações, aceitando os prêmios apenas por precisar do dinheiro, Bernhard é um desses, infelizmente, raros escritores realmente individualistas. Sua carte de desligamento da Academia é um exemplo de coragem e honestidade moral. Ele acusa os acadêmicos de futilidade, de serem mortos, de aceitarem dinheiro estatal para simplesmente tomarem chá e se auto elogiarem. O ESTADO NÃO DEVE DAR DINHEIRO A ARTE, JAMAIS! Cada artista que se vire como puder e que pague o ônus de seu trabalho, de sua escolha. -------------- A verdade é que Bernhard odeia escritores. Ele ama alguns poucos por serem realmente bons, mas no geral ele considera o meio um dos mais deploráveis do planeta. ---------------- Odiado por toda a ingteligência da Austria, percebo nele a coragem que aqui, no Brasil, país que se define pela cultura do puxa saquismo e do absoluto lambe cu, é impossível de existir. Temos uma linhagem de escritores embaixadores, funcionários públicos, quando não sustentados por bolsas estatais. É o modelo que cria uma arte preguiçosa, adulatória, pouco estimulante, pouco viril. Doce e boba. ------------------------- Algum acadêmico já se retirou por não concordar com algo que a academia fez? -------------------- Mais que tudo, ler Bernhard é uma dose enorme de fibra, de arrojo. O discurso de agradecimento que ele fez pelo Prêmio Literário da Academia de Bremen deveria ser matéria no curso de letras da USP. É uma das mais nobres e anarquistas e pessimistas peças já escritas. Página e meia ( seus discursos duravam 3 minutos ) que dá a radiografia do mundo de agora e de amanhã. Sem pudor. Sem um só palavrão. Indo, direto e sem enrolar, ao diagnóstico. O homem era grande.