TAMBÉM O CISNE MORRE - ALDOUS HUXLEY

Huxley esteve em Hollywood nos anos de 30 e 40. Na verdade foi morar por lá como roteirista. Deu palpites em muitos roteiros que não levam seu nome e nas horas vagas, escreveu romances. Este é de 1939, pouco antes de ADMIRÁVEL MUNDO NOVO. -------------- Aqui ele já percebe a aramdilha que fora armada para o homem do século XX ( e XXI ). A ditadura do prazer faria com que as pessoas abrissem mão de tudo: honra, liberdade, verdade, laços familiares, sentido d vida, tudo em nome do prazer, um prazer que seria sempre ilusório, pouco durável e portanto sempre em fuga. Ajoelhados perante aquele que lhes dá o prazer, prazer este puramente sensorial-físico, o ser humano seria para sempre um poço de ansiedade, espremido entre o medo de perder o prazer e a submissão a quem o proporciona. ----------------- Há um personagem aqui, um gordinho meio padre meio carpinteiro, bastante artificial pois ninguém conversa daquele modo, que é porta voz de Huxley. Ele diz que inclusive a religião e a ideologia política fazem parte desse tipo de prazer barato, ambos dando ao ansioso a ilusão de fazer parte de uma irmandade e de possuir uma missão na vida. Imenso prazer esse. ---------------------- O livro foi escrito durante a guerra civil da Espanha e Huxley condena os fascistas, lógico, mas não defende os republicanos. Ele sabe que se mantidos no poder, os republicanos fariam o mesmo que Franco e sua gangue, ou seja, prisões, assassinatos, exílios, crimes. Para ele, TODA ideologia é criminosa pois tira do homem sua única chance de felicidade, a independência. ------------------- A trama? Weeeellll...Huxley, como Orson Welles, ficou impressionado com Hearst e sua Shangrila. Então Huxley escreve sobre um bilionário americano, brega, que vive entre Vermmeers, Rafaellos e El Grecos. Coleciona objetos antigos, enche os jardins de estátuas e tem uma biblioteca de sonho. Aterrorizado pela ideia da morte, ele tem uma laboratório onde tenta se desenvolver um soro que prolongue a vida. Uma jovem é sua amante. Há ainda um inglês que vem catalogar uma nova coleção de manuscritos raros, um jovem cientista idealista e o tal pároco. --------------- Na primeira parte é uma sátira ao nível Evelyn Waugh. Huxley ri da loucura americana. Mas depois o romance se torna pregação filosófica e por fim um drama de mistério. Huxley era o tipo do cérebro que podia escrever o que quisesse, sua falha era o excesso de pregação. Se em A ILHA isso destroi a obra, aqui ela se salva. É um belo romance. -------------------- Diz-se aqui que tudo aquilo que pode ser descrito ou pensado dentro da gramática, por palavras, nada vale, pois é puramente humano. Teria Huxley lido Wittgeinstein????? Para Huxley, temos 3 níveis: o animal, que é válido e puro, mundo de instintos e de fomes, o médio, o pior, que é o humano, totalmente ligado ao tempo e ao prazer sem sentido, e o nível 3, fora do tempo, eterno e divino. Complicado? Não acho. Talvez porque eu já tenha sentido na carne cada um desses níveis. Talvez um dia eu fale sobre.