QUANTO MAIS COISAS MENOS ALMA

Em mundo cheio de coisas, ruídos, objetos, falta de espaço, a alma e tudo que à ela compete, fica escanteada. Esse pensamento vem após conversa com professor de história, militante, óbvio, que fala da cobiça dos bandeirantes ávidos por terras dos índios. Usando camiseta do MST em sala de aula, não me espanta o fato de ele perceber um homem do século XVI como fosse ele um do século XX. Ou XXI. ---------------- Gente da época do nosso descobrimento vivia em mundo feito de silêncios longos, casas vazias, ruas sem confusão. Andavam muito, ouviam sons imperceptíveis, viam o que não se percebe. A religião e a experiência mística eram para eles o centro absoluto da vida. Sua fé nos seria incompreensível. Tudo ao redor era Deus ou Diabo, tudo era um sinal, milagres cotidianos. O que os movia, o que predominantemente os movia, era o medo da danação e o desejo pelo Eterno. Quando aqui chegam o que mais querem e precisam é levar aos pagões a mensagem da Palavra. O que percebem são canibais nús, primitivos, no escuro, e ao lhes "salvar", eles desejam não as terras, mas sim um lugar ao lado de Deus, no outro mundo. Ignorar isso é de uma idiotice de MST. PS: óbvio que a cobiça havia, como ainda há hoje alguma fé, mas o que os fazia entrar no inferno verde do Brasil era a crença na Missão Divina. Sem GPS, sem mapa, sem guias, em terra fechada, quente, cheia de cobras e mosquitos, totalmente desconhecida, com roupas de couro, só com algum fanatismo e muita fé se consegue entrar. ------------------- O tal professor riu sem graça e me olhou como se todo esse pensamento fosse "simples bolsonarismo". Toda chance de troca de informações morre nesse preconceito. FIM.