A QUEDA - ALBERT CAMUS
É um dos últimos livros de Camus e, ao contrário de O ESTRANGEIRO, nada nele me decepciona. Lembro ter lido aos 16 anos e não ter entendido nada. Tudo que eu captei foi o mal estar do personagem. Agora, tanto tempo depois, 44 anos!!!!, entendo o que o personagem sente e fala. ------------ O livro nada mais é que o vômito de um homem, tudo que lemos é sua fala diante de alguém que ele encontra, por acaso, e com quem acaba por se abrir. São três encontros em Amsterdã. ---------------- Por que Amsterdã? Talvez pelo seu cenário, cenário que Camus descreve. Um imenso nada cinzento, uma planície vazia, um povo impessoal, um lugar morto. O homem que fala começa por se mostrar como um juiz, depois um hedonista e por fim um penitente. Ele é livre por não ter vínculos afetivos, prega a imoralidade sexual, o encontro casual sexual anônimo, o ser aquilo que se é. Mas vemos que não é só isso, ele carrega culpas que não confessa, ele é humano. Camus percebe os erros da filosofia racionalista, mas também não aceita o pensamento espiritualista, ele ousa se colocar fora, na margem. Viver é estar sempre em perigo e a vida não vale tanto assim. Somos sós perante a vida e escolhemos o tempo todo: ser submisso ou ser livre. Julgamos todos ao redor e somos julgados. Camus escreve algumas frases que se prestam à 2023: somos julgados e anulados se não seguirmos o meio em que estamos inseridos. Devemos falar como nosso grupo, sem nem mesmo usar palavras alheias ao código de censura instituído. Quando ousamos pensar ou falar algo que coloca o grupo em risco, em dúvida de sua verdade, somos imediatamente excluídos. O mundo moderno é feito de juízes. ------------------- Mas ele saiu do grupo. Ousou falar " Graças a Deus" no meio de um grupo de intelectuais. O ódio o perseguiu. Foi embora então. Entregou-se ao sensulismo, ao sexo pelo sexo, aos contatos transitórios. A vida é o corpo e o corpo é livre. Depois houve a guerra. Depois ele foi um juiz também. E se puniu afinal. ------------------ Tudo isso dito numa só fala. Verborragia francesa. Um belo livro.