UMA QUESTÃO DE SWING E DE MOOD....CHARLES MINGUS +++++++ MINGUS AH UM, UM DOS 5 MAIORES DISCOS DA HISTÓRIA

O disco, de 1959, histórico, abre com BETTER GIT IT IN YOUR SOUL, e tudo se torna beat. A bateria swing e corre como numa noite asfaltada de chuva e sexo. Dannie Richmond o batera. Mingus, gênio, era um cara que sabia usar naipes de sopros como ninguém mais. Eles escorregam levando um ritmo alucinado. Mingus e seu baixo, como deve ser: lá no fundo, empurram a coisa toda. E há o piano: uma repetição de acordes em um break diabólico de danado! Tudo é velocidade e eu sinto que a vida pulsa dentro do meu coração e da minha alma e de tudo ao meu redor. Sim baby, eu sabia que era um disco histórico, mas não achei que fosse tão tão tão BOM ! ------------------ Alguém grita ao fundo. -------------- Uma balada depois, sensual como é toda música escrita com a verdade. Música é sexo, mas às vezes ela é impotente. Não aqui. Mingus devia transar bem pra caramba. Uma faixa agitada em seguida que traz aquele tipo de solo de bateria que só o jazz tem: curto e vital. Aula de batida. Os pratos têm vida. Mingus escreve preguiça como ninguém mais. Sabe tipo um cara acordando de ressaca? No centro de NY ? Carros da janela lá embaixo e frio pra cacete? É isso. Ou então uma loira pelada indo tomar café. Mingus escreve isso e sempre com esse ritmo africano que vem direto dos colhões. Acelera. Lento. Acelera. Lento. Que coisa foda!!!! --------------------- O pianista é Horace Parlan Jr. e os sopros, muitos, têm John Handy, Booker Ervin, Shafi Hadi, Willie Dennis e Jimmy Knepper. ---------------- Bird Calls é um chamado de pássaro no mato, quase um desafino que se torna jazz esperto. Fables of Fabus é dança, um walkin ritmado na Quinta Avenida ou um grupo se movendo numa boate secreta. Mingus quebra o ritmo que poderia ser de Duke Ellington mas que com Mingus é outra coisa. Ouça esse acorde dissonante, essa batida na caixa invertida, a súbita aceleração do ritmo, o bass que sobe e desce todo o tempo, o tropeço geral que lembra Monk mas é Mingus. Todos os solos de sax são exatos, nem longos nem curtos demais. ------------- Sexy e safo, can you dig it? -------------------- Qual foi o cara que descobriu que aquele instrumento tão desajeitado poderia ser a alma do ritmo do jazz? O contrabaixo é a adrenalina que faz pulsar e eis Mingus solando afinal. Pena que é tão pouco.... Pussy Cat Dues...é o que voce imaginou: uma gata se estica sobre o tapete. Eis o som que ela merece: trombone com surdina, enrolando-se nela. O blues mais blues do disco. A faixa mais tradicional entre todas. Talvez porque uma pussy cat seja sempre e será pra sempre isso que aqui se escuta. Um MIAAAAAUUUUUU em forma estendida de jazz. ------------------ Afinal, Jelly Roll fecha o disco. No final, a origem, ou uma das origens. ( Que disco perfeito e que delícia de disco ). Voce sabe, a invenção do jazz e seu desenvolvimento é um tipo de milagre. Quando se cria o samba ou a rumba a coisa é muito forte mas a raiz africana está bem presente nesses ritmos. Mas o jazz..... ele não parece samba e nem música europeia! Ele tem o ritmo e a alma da Africa mas ao mesmo tempo é tão harmonicamente e melodicamente sofisticado como são Ravel ou Strauss. E além! O jazz criou um universo que seria inimaginável no tempo de Chopin ou de Brahms. E dentro desse novo universo, desse big bang, nasceram coisas como Kind of Blue e este Ah Um. Obras primas tão distantes do batuque tribal ou da sinfonia concertante como Mercúrio está longe de Alfa Centaurus. Mundos em si que parecem terem paridos a si mesmos. Charles Mingus foi um gênio, como foram Duke e Miles e Monk e Trane. Ah Um é uma obra prima, mais uma, do jazz. E é sexy pra carai.