MY LIFE IN THE BUSH OF GHOSTS - ENO - BYRNE

Gravado entre 1979 e 1980, causa espanto saber que nesse período Brian Eno encontrou tempo para trabalhar em Lodger, de Bowie, Fear of Music dos Talking Heads, lançar seus discos de ambient music e ainda produzir o sublime Ultravox. Este trabalho, Eno e David Byrne sozinhos, eles compuseram, produziram e tocaram todos os intrumentos, é considerado um marco histórico: pela primeira vez um disco usava vozes sampleadas. Sampler feito em fita, editados e produzidos por Eno. Para isso, ele gravou vozes no rádio, um cantor do Líbano, um DJ de New Orleans, um pregador religioso e até mesmo uma sessão de exorcismo. As vozes são mixadas e colocadas sobre ritmos tribais, funkeados, world music. Algumas músicas chegam a dar medo, parecem fantasmas captados para sempre. Em 2023 percebemos que este trabalho repercute em tudo que foi feito em música eletrônica 10 anos mais tarde, entre 1989-1991. Lembre-se, em 1980 NINGUÈM gravava vozes para as samplear. Se hoje isso é banal, quem começou foram esses dois irriquietos. --------------------- Eu comprei o vinyl na época e o escutei apenas uma vez. Me pareceu então perturbador demais. Eu não entendia o porque daquelas vozes, o porque de as gravar e editar, o porque dos loopings sem fim. Mesmo sendo um ouvinte acostumado a Bowie, Kraftwerk, Gary Numan, este disco parecia radical demais, simples demais, estranho demais. A música não andava. Não havia introdução e nem refrão, não havia desenvolvimento. O som era como um flash fotográfico. Um momento sonoro paralisado no tempo. E com vozes fantasmagóricas. Era inclassificável. ------------------- Tudo que foi um dia moderno se torna velho em seguida. Ouvir este disco hoje, vale a pena? Sim, vale porque é belo. A sonoridade é fantástica, o som é rico, cheio de detalhes e muito dançável. E ao mesmo tempo parece soturno. Ouça e absorva.