JULES DASSIN É DAQUELES DIRETORES QUE VOCE DEVIA ASSISTIR TUDO

Nunca aos Domingos não é o melhor filme de Dassin, mas eu o reassisti ontem e então deu vontade de falar do cara. Jules Dassin era americano, judeu, e começou fazendo filmes policiais maravilhosos. Não indico nenhum em especial porque todos se equivalem. Sua abordagem é moderna, nada glamurosa, viril, com muita sombra, muito bandido doente, mulher fatal, e uma sensação de beco sem saída asfixiante. Se voce assistir um vai querer ver todos. Tudo corria bem quando então ele foi acusado pelos senadores do MacArthismo e fugiu. Se tornou um diretor internacional e se deu muito bem. Fez filme na Inglaterra, na França, na Grécia. RI FI FI é dessa época, e em 1960 ele faz um filme grego, NUNCA AOS DOMINGOS, um grande sucesso de bilheteria e crítica. ---------------- Melina Mercouri, uma estrela grega e que seria a esposa de Dassin na vida real, faz o papel de uma prostituta que só transa com quem ela gosta. Esfuziantemente alegre, ela é uma versão feminina de Zorba, o velho solar de Nikos Kazantzakis. Não é por acaso de que o filme de Cacoyannis, com Anthony Quinn, seria feito 3 anos depois deste filme. Pois bem, ela é uma prostituta feliz, que tem como clentes seus amigos. Ela festeja a vida, eles a acompanham, no mar, nas ruas, nas danças. Mas então surge um turista americano, papel feito pelo próprio Jules Dassin, e apesar de adorar o que vê, ele fica intrigado. Esse turista, que é um filósofo, quer entender o porque da Grécia ter decaído tanto após o apogeu do trio Sócrates-Platão-Aristóteles. Ele cria uma teoria: os gregos se tornaram hedonistas, a vida para eles deixou de ser busca do saber e passou a ser busca do prazer. A prostituta conhece os trágicos, conhece literatura, mas ela não mergulha na tragédia, ela ri. Esse americano paga à prostituta para que ele a deixe ensinar arte e filosofia. Ela aprende, não se torna infeliz, mas deixa de ser prostituta e não mais sai às ruas em absurda festa. Ela se torna uma intelectual. Bem....dificil imaginar um final para este filme e o roteiro de Dassin tateia: como não condenar a razão, e ao mesmo tempo reconhecer a beleza da vida dos sentidos puros? Espertamente ele faz o que se deve: o americano toma um porre e bebe. Então dança. E se torna aquilo que o escritor do livro de Kazantzakis não consegue se tornar: um intelectual que dança, que bebe e que se tornará mais um dos amigos da prostituta. -------------- É a Grécia do folclore, de Zorba, dos Opa!, do bouzouki, dos peixes e dos homens que pulam nos bares. Mas Dassin conheceu esse mundo, passou a viver lá e isso me faz crer que pelo menos em 1960 o país ainda era assim: grego. O que Dassin advoga é que a civilização grega deixou de lado o saber porque resolveu viver, dia a dia, o fluxo da natureza. O filme é encantador.