A VIDA É UM CABARET? NÃO MAIS QUERIDO, NÃO MAIS

O filme de 1972, CABARET, filme ícone dirigido por Bob Fosse, produção que disputou com O PODEROSO CHEFÃO os Oscars de seu ano, ganhou o de direção, deixando Coppolla com melhor filme, Cabaret é cinematograficamente falando um filme perfeito, mas como eu ia dizendo, CABARET diz que a vida é um cabaret. Será? Em 1931, ano em que a história se passa, era sim. O mundo, despedaçado, se aprontava para a pior guerra da história e o povo, anestesiado, se divertia no cabaret criado para sua diversão. Sexo, bebidas, música, números de dança e a ilusão de se poder ser um grande astro, seja no cinema, seja nos livros. Risos histéricos, aplausos e assovios. Mas em meio à isso tudo, os rostos expressionistas que a câmera de Geoffey Unsworth capta tão bem. CABARET foi o primeiro musical que vi e adorei e é o melhor filme musical para ser visto por quem não gosta de musicais. Isso porque todos os seus números não acontecem na "vida real", mas sim sobre o palco. Não há a interrupção da ação falada para que avança a ação cantada. Joel Grey apresenta cada número, isso porque para Bob Fosse, a vida americana em 1972 era a vida no cabaret. ----------------------- O filme nunca será visto em sua real dimensão por quem tem menos de 60 anos de idade. Cabaret se tornou uma presença constante em seu tempo. Shows de TV, comerciais e discos, a estética cabaret, o modo de viver cabaret aparecia em todo canto. Sally, a personagem de Liza Minelli, se fez modelo de shows de transformistas e até hoje eu vejo meninos de sexualidade dúbia que são Sally Bowles sem saber quem é Sally Bowles. O mestre de cerimônias feito por Joel Grey, satânico, é molde para figuras soturnas do mundo POP. Transformer de Lou Reed, assim como Ziggy Stardust e Roxy Music I, são desses meses. New York Dolls e Killer de Alice Cooper também. A estética gay-decadente-cabaret dava o tom. -------------- Hoje a vida não é um cabaret. Sally seria uma youtuber. O escritor feito por Michael York seria um crítico de arte ou um blogger. A judia rica, feita por Marisa Berenson, seria uma conservadora, censurada na net e sem poder se revelar nos meios artísticos. O mundo da ilusão seria o mundo das redes sociais, mas esse mundo, incomparavelmente mais poderoso, com suas câmeras vigiando até mesmo o interior de seu carro e a porta de sua casa, se confundiria com o mundo real. Uma tempestade acontecendo no mundo real, como em 1931, e ignorado pela maioria, como em 1931. Mas diferentemente, podendo ser controlado e domado pelo cabaret. O filme é poderoso e atemporal. Não tem uma só cena fraca, todas parecem necessárias e magistralmente compostas. As canções, de John Kander e Fred Ebb se tornaram parte de nosso inconsciente. Bob Fosse foi um diretor genial, irriquieto, e nesse ano obteve um recorde que jamais será batido: ganhou Oscar, Tony e Emmy na mesma temporada. Melhor diretor de cinema, melhor diretor de teatro, melhor diretor de TV. Cabaret, Pippin e o especial de TV Liza with Z. --------------------- Eu jamais esqueci a cara de Joel Grey ironizando cada cena do filme. Jamais deixei de levar money makes the world go round em minha cabeça. A estridência da orquestra feminina. A bissexualidade de TODOS os personagens. Até Liza, uma figura tão exagerada em outros filmes de shows, aqui está adorável. Sally nasceu para perder e ela insiste em não ver isso. E pensar que Fosse fez o filme com uns trocados pois ninguém queria produzir um filme tão soturno..... Oscar Wilde dizia que o mundo, em 1880, era uma peça ruim. Em 1931 foi um cabaret e em 1950 era um filme em technicolor. Nos anos 60 o mundo era a tela de uma TV e nos anos 80 ele se tornou um video clip. Em 2022 ele é um "rede social do bem" e quem estiver fora não existe mais. O que nunca mudou em todos esses mundos? Money makes the world go round.....