FLIC STORY - JACQUES DERAY, UM GRANDE FILME POLICIAL

Para quem não sabe, Flic é gíria francesa para policial, seria "tira". Jacques Deray foi o melhor discípulo de Melville, o diretor que melhor desenvolveu um tipo de filme policial genuinamente francês. Neste filme de 1975, Deray nos conta uma história real, acontecida nos anos 50 em Paris. Um assassino foge da prisão e um policial de elite tenta o capturar. Ao contrário dos filmes americanos o destaque aqui é para o perfil, a personalidade de policial e de assassino. Existem muitas cenas de tiros, de mortes violentas, ação, mas o coração do filme está na exibição da alma dos dois protagonistas. Jean-Louis Trintignant faz o killer. E, sem dúvida, é um dos mais perfeitos monstros já criados por qualquer ator. Olhos frios, rosto sem expressão alguma, ele mata como quem acende um cigarro. É indiferente, é banal, é cruel. Cada gesto desse ator extraordinário é violência fria. Alain Delon faz o policial. Delon também brilha, mas seu papel é mais ingrato por ser menos "sensacional". O policial odeia ser violento, tenta obter informações por meios sutis, é paciente, espera, deixa o tempo correr. Delon conduz o filme, nos entretém, nos faz torcer por ele. Não consigo lembrar de uma só cena nesse filme que pareça supérflua. Todas as tomadas são perfeitas, exatas, tensas, acertam seu alvo. É o tipo de filme que deveria ser exibido e estudado em escolas de cinema. Como acontece nos filmes de Melville, os personagens vivem por seu trabalho, sua missão, mesmo que esse trabalho seja roubar e matar. Todos executam cada ato, cada fala com precisão absoluta, o que nos faz pensar em samurais. Melville gostava de dizer que seus filmes eram faroestes feitos na Paris moderna. Eu diria que são filmes de samurai feitos na França. Falo de Melville porque isso se aplica a Deray, um perfeito esteta do policial. E caso voce não saiba, o grande tema de nosso tempo é a violência, o crime, a escolha entre ser bom ou ser mau. Eu amei este filme e sei que voce irá amar também. Veja.