A MORTE DA RAINHA e divagações sobre o mundo de hoje
Okay, ela era legal e com todo meu anglicismo ( essa palavra existe? ) voce deve achar que eu teceria loas à ela. Mas não. Elizabeth era legal como é legal toda avó com seus cães e um chá quente na mesa ao lado. Nascida em 1926, exato ano em que meu pai nasceu, eu entendo sua geração porque cresci com um homem, meu pai, do mesmo mundo que ela, ao meu lado. Eles eram melhores que nós. Eles eram mais gentis e gentileza é tudo. Tinham menos pressa. E sabiam trabalhar duro, muito duro. Estou divagando? Não, não estou. A rainha era parte disso, do mundo de meu pai, mesmo sendo a rainha do país mais importante para o ocidente dos últimos 300 anos. A Segunda Guerra acabou ela já tinha 19 anos. Quando virou rainha Churchill ainda era ativo e as letras inglesas tinham vivos Huxley, T.S.Eliot e Bertrand Russell. Mais que isso, quem lia jornais na época sabia do que falo: havia CULTURA. Se discutia muito, mas sempre com o pudor de não mentir ou de mentir com um mínimo de arte. Quero enfatizar que pessoas como meu pai e como a rainha tinham vergonha, decência, fidalguia. Monstros como Hitler ou Stalin sempre existiram, mas na vida do dia a dia, da rua, havia um mínimo de decência. As palavras, como as pessoas, usavam colete, roupa de baixo, gravata, cigarreira. Não havia a explicitude da canalhice, a pornografia da ignorância. Elizabeth viu tudo isso mudar. Os Beatles, os Sex Pistols, Evelyn Waugh, Ted Hughes, Harold Wilson, Thatcher, o cinismo abjeto de Tony Blair. Boris Johnson deve tê-la feito vomitar. Elizabeth viu Londres ainda respirar em 1954 ou 1966, mas também viu ela morrer em 1995, 1998...A cidade não existe mais. É um conglomerado tipo parque de diversões americano. O skyline de Londres é hoje irreconhecível. Who cares? As pessoas estão preocupadas com troca de sexo, drogas baratas, aquecimento global, discos voadores e a preservação das focas. Londres não importa porque as pessoas reais, com suas preocupações reais, não importam mais. Elizabeth era do tempo em que defender o comércio inglês era mais importante que discutir o uso de banheiros mistos em Wimbledon. E não se engane. A Inglaterra foi grande por ter sido o país dos melhores comerciantes do mundo. Isso desde Francis Drake. -------------------- Leio aqui um bobo. Diz ele: Abra uma cerveja e comemore a morte da rainha. Pena ela não ter morrido na guilhotina. --------- O cara que escreveu isso é candidato a deputado. De esquerda, óbvio. Não me causa raiva alguma. Me causa divertimento. É o caso típico que prova a falência da educação mundial. Um bobo se sente "culto", "moderno", "rebelde" por propagar algo que já era antigo e banal em 1845. Sempre penso que todo revolucionário é alguém que quer pegar mulheres fáceis. Todo "Tony, The Red" ou 'Greg, the Leftist" é um sedutor de araque. Um canastrão. Não esqueçamos que em rede nacional uma jornalista de oposição disse que o lema de nossa bandeira é "Independência ou Morte". ------------ Misturo a morte da rainha aos nossos dois séculos de vida porque as duas datas se misturaram. E os alunos, que não sabiam o porque de ser feriado, também não sabiam de onde era a tal rainha. Acredite. Não houve um só professor a citar a independência. Nos últimos vinte anos sufocaram nosso 21 de abril, o 13 de maio e o 19 de novembro. Querem o prazer dos feriados, mas não falam para os jovens o porque do feriado existir. Como revolucionários de bordel barato, tentam reinventar a história. Apagar o que aconteceu. Editar. Sinto pena dos alunos. Eles são ensinados a ver o Brasil como algo ruim, meio vazio, sem passado, vago, hostil, muito errado. Sem grandes nomes ( só Zumbi vale ), sem grandes datas, motivo de vergonha, de zombaria. De asco. ------------- Meu pai, como a rainha, são de outro tempo. Foram a última geração a não ter tido de apagar os herois de suas vidas. Acreditavam que EXISTIAM HOMENS MELHORES E POR CRER NISSO SE TORNAVAM ELES MESMOS MELHORES. Crer na possibilidade da nobreza, crer ser possível haver heroísmo, acreditar na provável verdade da lenda, faz com que nos tornemos um pouco nobres, um pouco herois, um tanto lendários. --------- Mas há quem odeie isso tudo que aqui falo. Pessoas podres querem crer que todos são como elas mesmas são. E então inventam que toda a história humana é podre. Um consolo. Mero e simples consolo. ----------------- Elizabeth morre e sim, será logo esquecida. Na verdade ela é apenas um nome. Mais um nome no menu cheio de nomes do mundo barulhento de 2022. God save the King então. E mais que tudo, que God nos salve a todos.