AB-REAÇÃO, ANÁLISE DOS SONHOS, TRANSFERÊNCIA - CARL GUSTAV JUNG

Em termos de descrição daquilo que é o inconsciente, este é o texto mais claro de Jung que li até agora. Existem como que dois campos dentro de nossa mente, ou melhor, que constituem nossa mente: o consciente e o inconsciente. No ideal de bem estar, ambos estariam em equilíbrio, cada um existindo em seu campo. Mas isso raramente ocorre. O consciente, sobrecarregado, perde energia e nesse momento o inconsciente começa a se fazer perceber. Nosso consciente se assusta com os conteúdos do inconsciente e nasce a neurose. Tentamos escapar das imagens, das sensações, do universo irracional do inconsciente, nem que para escapar tenhamos de criar sintomas, manias, a ilha da neurose. Perdendo toda fé na razão, cheios de medo, dividido em dois, no meio de uma guerra interna, procuramos ajuda. O terapeuta assume a função de nossa consciência, começa então a transferência. ------------- Primeiro fato que percebo: O povo muito deslumbrado que pensa seguir Jung tende a hiper valorizar o inconsciente. Jung deixa claro que cabe ao médico salvar a consciência. Somente doentes têm a prevalência do inconsciente, o que se deve fazer é perder o medo do outro lado da mente, abrir algum tipo de entendimento entre os litigantes, mas sempre tendo a razão como guia. Penetrar no mundo escuro da inconsciência é sempre destruidor e a maioria jamais retorna dessa viagem. --------------- O que seria o inconsciente? É aquilo que resta de nossa história de milhôes de anos passados. O começo do homem como ser não-animal. Dentro desse mundo, não verbal, pois falamos de um homem sem linguagem verbal, o que existe é o medo do fogo, da chuva, o canibalismo, o incesto, a possessão demoníaca, a morte ritual, a inanição por fome, o não-eu, a não-compreensão. Tudo é imagem, é fagulha, é corpo. Não há o "Porque" e nem o "Para que". Não há tempo ou distância, tudo é sempre aqui e agora. Não é animal, pois é humano, mas é o mais primitivo dos humanos, o homem puro impulso, ação sem planejamento, instinto solto, fomes e desejos. Um mundo de fantasmas, de cavernas, de frio, de fuga e caça, de sujeira. ------------ Então, de forma muito lenta, e não se saberá jamais porque, o homem começa a criar a consciência. Primeiro ele se vê como um outro diferente daquele a seu lado. Depois ele planeja uma ação. E então começa a desenvolver um discurso. Acontece a cisão. Para poder sair do estado de natureza, ele precisa calar seu lado puramente instintivo, aprender a esperar, a negar, a se adaptar. A luta interna deve ter sido dolorosa. Não mais comer a carne humana. Não mais deitar com a irmã. Não mais roubar. Se submeter a lei. E passam os séculos....e cada vez mais o inconsciente fica lotado de tudo aquilo que o consciente não mais aceita: não bater em quem te ofende, não caçar, não guerrear, negar desejos. Explodem as neuroses, lógico. Nossa história não pode ser apagada. Nossa herança genética, espiritual, histórica, dê o nome que quiser, vive e respira. Ela mora nos sonhos. Nas neuroses. Na arte. E em ações sem sentido como a guerra e a auto destruição. Em todo homem moderno ocorre a guerra interna entre luz e sombra. E muitas vezes vamos à sombra pensando ser ela a luz. E vice-versa. ------------------ A religião cristã tinha um modo maravilhoso de lidar com isso. O consciente era o Paraíso. O inconsciente era o Inferno. Luz e trevas. De forma sutil, forma que não cabe aqui descrever, a Igreja pacificou o conflito dando aos fiéis sua escolha pacífica. Mas isso terminou no século XVI com a ruptura da Igreja em dois lados: Católicos e protestantes. Desde então a própria fé tomou partido e a cisão interna de cada homem se refletiu na cisão cristã. Para os de Roma são os protestantes os seres da sombra. Para os evangélicos, são os católicos os partidários do engano. Ambos jogam no adversário aquilo que não aceitam em si mesmos: sua sombra. --------------- Ainda não terminei de ler todo o livro e neste momento leio sobre a alquimia. Jung analisa imagens de antigos volumes alquímicos e nos explica toda a mensagem ali expressa. Breve posto mais.