GOODBYE YELLOW BRICK ROAD- ELTON JOHN. O MAIOR FENÔMENO DE INSPIRAÇÃO DA HISTÓRIA DO POP.

Eu tive sorte de viver minha puberdade entre 1973-1974. Ouvir rádio nesse tempo era uma experiência rica, e dentro dessa riqueza, ninguém era mais onipresente que Elton John. Nem Elvis ou Michael Jackson tiveram tantas músicas rodando no rádio mundial ao mesmo tempo. Apenas os Beatles podem ser comparados a ele. E olhe que em 73-74 Elton tinha de disputar espaço com Paul, John, George e Ringo, mais Stevie Wonder, Marvin Gaye, Bowie, Abba, Bee Gees, Carpenters, James Taylor, Paul Simon, Diana Ross, Dylan, Rolling Stones, Who, Led, Rod,Sabbath, Yes, Jethro Tull, Purple, Alice Cooper, Jackson Five, Suzi Quatro, T. Rex, isso falando apenas dos que ainda são lembrados hoje. Dos que venderam muito. Elton bateu à todos. --------------- Entre 73 e 74 ele lançou quatro albuns. Sim, isso mesmo, quatro albuns. HONKY CHATEAU, DONT SHOOT ME IM THE PIANO PLAYER, GOODBYE YELLOW BRICK ROAD e CARIBOU. Honky é o melhor. Caribou é meu mais querido porque foi aquele que ganhei em 1974, meu primeiro disco. Todos esse LPs chegaram ao number one. E todos são cheios de singles que fizeram muito, muito sucesso. Não vamos esquecer que nessa época, Elton ainda lançou dois singles que não fazem parte de nenhum desses discos: sua versão brilhante de Lucy in the sky with diamonds e com Lennon Whatever gets you thru the night. Sua inspiração é um milagre. Entre 1970-1976 ele mandou. ----------------- Goodbye yellow brick road era um LP duplo, dura 70 minutos e é considerado hoje sua obra prima. Em 1974, num país periférico como o Brasil, todo mundo ouvia no radio 7, eu disse sete!, canções tiradas desse disco. Candle in the wind, Beanie and the jets, Goodbye yellow brick road, Sweet painted Lady, Ballad of danny bailey, Saturday night is alright for fighting, Roy rogers, todas tocavam no rádio. Todas saíram em single. Todas têm inspiração. O fogo da criação. Veja a melodia de Goodbye Yellow brick road. O arranjo vocal de fundo, ( ninguém aprendeu tão bem a usar coros vocais como Elton ). O refrão que vem num crescendo orquestral. Os riffs da guitarra bem lá no centro. A bateria de Nigel Olsson, sempre ribombante. A harmonia que se constroi de um modo tão sinuoso e complexo. Até hoje, 2022, essa canção soa diferente, não cansa, não enjoa, emociona. Os 3 acordes de piano que a anunciam evoluem de modo fatídico. É uma melodia que mudou a vida de um menino de 11 anos, eu. --------------- Sweet Painted Lady é uma canção à francesa. Tem até acordeão. Gaivotas. Um ar de sonho, mar, praia. Ballad of Danny Bailey é de uma originalidade grave, escura, soturna. Na música de Elton há sempre uma melancolia trágica ao lado. Em Danny é explícita. A introdução é tétrica. O final, orquestral, maravilhoso. Mas há muito, muito mais. Hã as canções que não viraram singles. Grey Seal, agitada, grudenta, solar; I've seen that movie too, linda e chique, Harmony, perfeita. A única faixa fraca entre tantas é jamaica jerk off, um reggae torto; as demais vão do sublime ao perfeito pop. ------------------ Elton compunha do modo mais difícil que há. Bernie Taupin lhe dava letras prontas e Elton musicava. Não era a composição em dupla normal, mais comum, em que se faz cada verso dentro de uma melodia chave. Bernie, um inglês com mania de cowboy, enviava à Elton seus poemas já prontos e o pianista tinha de se virar. Ouvindo este disco a gente percebe como deve ter sido duro musicar, por exemplo, goodbye yellow brick road, como a letra deve ter parecido anti-musical e como Elton conseguiu a musicar quebrando a melodia e fazendo com que a harmonia seguisse sinuosa por cada verso longo. Elton era o sonho de todo letrista. Deixava o literato escrever do modo que quisesse, não interferia, e musicava a coisa sem mudar nada. O milagre é que dava certo. Quando os dois brigaram, em 1977, a magia de Elton morreu. Pelos anos seguintes ele continuaria a vender muito, muito mais do que eu pensava, eu pesquisei, ele é nas décadas de 80, 90 e 2000 um dos maiores vendedores de discos, mas nunca mais seria um fenômeno como um dia foi. Os dois voltariam a compor juntos, mas o momento se fora. Elton, como todo grande artista, é um joia criada por seu tempo. E o tempo de Elton foram os anos 70. Ele é a cara e a voz da década. E os anos 70 meu jovem, foram felizes.