WHITE HEAT ( FÚRIA SANGUINÁRIA ), UM FILME DOIDO DE RAOUL WALSH
Feito em 1949, este filme é até hoje um dos mais estudados por alunos de cinema nos USA. E é simples entender porque. Ele é uma aula naquilo que o cinema moderno mais preza: edição. O filme já começa no meio de uma ação, um bando de ladrões rouba um trem. Ficam vivendo numa cabana, até as coisas se acalmarem. Depois o chefe do bando cumpre uma pena de dois anos, enlouquece e no final é morto numa indústria química. Só isso? Não, há muito mais. Há a relação doentia da mãe do chefe da gangue com seu filho, Margaret Wycherly e James Cagney; há a esposa do chefe, uma mulher fatal que cospe chicletes, ronca, mente todo o tempo, é baixa, mal educada, e hiper sexy, Virginia Mayo, atriz de beleza impressionante. Há um policial infiltrado, que trava amizade com Cagney na prisão, Edmond O'Brien. Temos ainda o amante da esposa do chefe, Fred Clark, um tipinho belo e burro. E acima de tudo há no filme uma das cinco maiores atuações da história do cinema, James Cagney fazendo Cody, um chefe que tem enxaqueca, que depende da mãe, que enlouquece, mata por esporte, vive em briga com o mundo. São várias as cenas do filme que entraram para a história: o final, com Cagney em meio as chamas dizendo: Top of The World!, quando ele recebe a notícia da morte da mãe e grita no refeitório da prisão, completamente enlouquecido. O modo como ele mata o traidor dentro do porta malas do carro. O filme é na verdade toda uma coleção de cenas que ficaram gravadas na história do cinema. Raoul Walsh, mestre inventor do filme de ação ( ele começou a dirigir ainda no cinema mudo e se manteve na tiva até os anos 60 ), tem aqui sua obra prima. E pasmem!!!! Nenhuma indicação para o Oscar!!!! Nem Cagney, nem Walsh, nada. O filme, louco, febril, um mundo em si mesmo, hipnotiza. Cody chega ao limite da vida e a ultrapassa. Ele é maior que o filme, ele é maior que Hollywood, ele é o cinema. Fato: somente o cinema poderia criar alguém como ele. Eis a afirmação da arte, ela se afirma quando vemos que somente aquele veículo poderia construir tal obra. É assim com os livros de Henry James, só na literatura poderia existir Daisy Miller; é assim na música, somente em melodia poderia haver o mundo de Bach; é assim neste filme: só o cinema poderia nos dar esta obra. Ela não pode virar livro e nem teatro. É cinema, totalmente cinema. Que filme poderoso este é!