JUNIOR BONNER - CINCINATTI KID, DOIS FILMES COM O REI DO COOL.
Steve McQueen teria, se vivo, a mesma idade de Clint Eastwood. Mas ele morreu em 1980, aos 50 anos. Câncer. É triste imaginar quantos filmes ele teria feito em todos esses anos. Talvez até mesmo houvesse algo com Clint. Rambo foi feito para ele. E com Steve teria sido bem diferente. No cinema de ação dos anos 80-90 ele teria de dado muito bem. E daria aos filmes seu estilo extra ultra cool. Não se preocupe leitor, vou explicar como é esse cool em McQueen. ----------- Vejmos JUNIOR BONNER. Feito por Sam Peckinpah em 1972, não é um filme violento. É Peckinpah em modo leve. McQueen é um cowboy dos anos de 1970. Ele vive na estrada. É famoso em rodeios. Volta à sua cidade. Lá reencontra sua mãe, o pai, o irmão. O pai, Robert Preston, é um paquerador, beberrão, campeão de rodeios aposentado. O irmão, Joe Don Baker, se tornou um comerciante ambicioso. E a mãe, Ida Lupino, é carinhosa e ainda ama o pai de McQueen. Há uma briga de bar, bebida, rodeios, e um touro que McQueen deve domar. Nada no filme é sensacional. Ele é lento. Plácido. Sem nada de incrível ou fora do comum. São pessoas normais em vidas normais em um cenário diferente. O filme não emociona, mas após vê-lo sentimos vontade de continuar dentro dele. E isso se deve a Steve McQueen. Gostamos de o ver na tela. Ele é, de certo modo, um fracasso. Mas o tempo todo ele não sente dor alguma. Há melancolia em Junior Bonner ( o nome do personagem é esse ), há saudade e até solidão; mas Steve lida com esses sentimentos com calma, discressão, sem grandes discursos ou cenas de drama. Ele testemunha os erros da família, ele vence o touro, mas não explode, não faz estripulias, não exagera. Fosse feito por Jack Nicholson, Junior Bonner iria quebrar coisas e rir feito doido, fosse feito por De Niro ele bateria em todos ou partiria em desespero; se Al Pacino iria demonstrar mais inteligência e mais pretensão, mas como Steve ele é cool. Ele fala com o corpo, com o gestual, o modo de andar e de estar na tela. ---------------- Cincinatti Kid é anterior, de 1965, e foi dirigido por Norman Jewison. É uma grande produção com Ann Margret, Edward G. Robinson, Karl Malden. Trilha sonora, exagerada como sempre, de John Willians. O filme começa com um enterro negro em New Orleans. Kid é um campeão de poker. E irá enfrentar o maior de todos, o veterano Eddie G. Robinson. Ann Margret é uma megera que é casada com o bobalhão Karl Malden. O filme é muito, muito bom, e o jogo final é uma aula de edição ( do futuro diretor Hal Ashby ). Steve quer vencer. E se foca apenas nisso. Tudo nele é a espera do jogo, do grande encontro. Há nele uma violência contida que não irá explodir nunca. Ele transa com sua namorada, Tuesday Weld, e com Ann Margret, mas mesmo aí sua mente está no jogo. O estilo de McQueen é diferente do outro filme, Junior Bonner. Aqui ele é mais perigoso, menos melancólico, é angustiado, ambicioso, quase vil. O filme é mais que ele mas é dele. Esse o caráter da grande estrela, tudo se torna dela e só dela. Por maior que o filme seja ele tem um só dono, e não é o produtor ou o diretor, é a estrela. --------------- Steve McQueen não é maior que Clint Eastwood porque não teve saúde para o ser. Mas em 1972 ou 1965 ele era muito maior que Clint. Sua morte deixou um espaço sem dono nas telas. Dúzias de atores tentaram ocupar esse lugar. Não chegaram nem perto.