O TATUADO ( SAINT JACK ), O MELHOR FILME DE PETER BOGDANOVICH

Peter Bogdanovich era um homem apaixonado. E era um bobo. Na geração dos malucos, ele era o careta. Apaixonado por cinema, fez belos escritos sobre John Ford e sobre Howard Hawks, ele tinha opiniões fortes, não tinha medo. Para ele todos os grandes filmes haviam sido feitos até 1948. Depois disso, apenas diluições. ( Eu acho que o ano é 1995 ). Peter estourou em 1971 com A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA, uma melancólica visão sobre o sexo numa cidade perdida do Texas em 1950. Jeff Bridges estava nesse filme. E uma tal de Cybil Shepperd também. --------------- Na geração de Peter, todos se perderam. Alguns se reencontraram, a maioria não. Coppolla pirou de cocaína e destruiu sua carreira com Apocalypse. Desde então ele passou a ser "o diretor esquisito" e nunca mais se livrou disso. Friedkin, esse tinha o mundo a seus pés, afundou na vaidade mais repugnante. Hal Ashby virou uma piada, perdido em depressão e drogas. Brian de Palma sempre foi o classe B nessa turma, mas também perdeu a carreira no fim dos anos 80, se tornou um diretor barato. Scorsese foi o úncio que sobreviveu intacto, podendo filmar quando quisesse e o que quisesse. Esteve no esgoto após o lixo New York New York, mas foi salvo pelo Touro Indomável. Peter Bogdanovich não afundou por causa de drogas ou vaidade. Ele se perdeu por amor. Se apaixonou por Cibyl e passou a fazer filmes para ela e só para ela. Pior, não ganhou o amor da atriz. Muito pior, na sequência se apaixonou por uma coelhinha da Playboy. Que foi morta por um ex namorado ciumento. Quando eu digo que essa geração não foi feliz eu sei o que falo. ---------------- O TATUADO foi feito em 1979. Pós Cibyl e antes de Dorothy Stratten, a coelhinha. Como tudo que Peter fez após 1975, foi fracasso de bilheteria, e também mal distribuído e mal avaliado. Eu jamais o assistiria, mas vi ontem meio sem querer. Que filme LINDO! ------------------ Ben Gazzarra é um ator que não gosto. O filme é tão bom que passei a adorar o cara. Ele é um gigolô em Singapura. Acompanhamos sua vida. Simpático, boa praça, todos gostam de Jack, menos os concorrentes. Ele faz amizade com um inglês, trava contato com políticos, ama, ri, bebe, apanha, é tatuado. Quando o filme termina queremos uma segunda parte. Não queremos sair daquele mundo. Nos apaixonamos por Jack. ---------------- Singapura nos anos 70, para quem não sabe, era um paraíso sexual. Prostitutas na ruas, centenas, as pessoas do mundo inteiro iam para lá para ver e fazer loucuras. Era uma ilha de favelas, suja, porém alegre. Hoje é um lugar que transpira dinheiro. A Singapura de 1979 era outro planeta. Peter exibe o lugar com amor. Ele ama aquela vida, e consegue nos fazer comungar de seu amor. Fazer isso com seu público é talento de poucos diretores. Peter tinha isso. Adoramos ver Jack com seu charuto, andando, falando com os indianos, os chineses, tomando sua dose de whisky, jogando dinheiro no balcão. Adoramos olhar para Jack. Adoramos suas prostitutas. ---------------- No mundo ideal Peter teria feito tantos filmes quanto de Palma, com a liberdade de Scorsese. Não rolou. Ele teve imensas dificuldades para dirigir, conseguir dinheiro, ser levado em conta. Morreu na semana passada. E, apesar de tudo, sua carreira não foi em vão. Este filme fica. O absolve. O enobrece. Há quem faça 40 filmes e jamais atinja isso. Vá em paz Peter.