LE NOZZE DI FIGARO - MOZART

A suprema genialidade de Mozart incomoda a todos que a estudam. Porque, ao contrário de Haydn ou Beethoven, ele não foi um inovador. Sua arte é a do seu tempo. Não anuncia o futuro, não cria novas formas, não ousa mundos criados. Mozart aperfeiçoa, aumenta, faz melhor e maior, mas não invanta novidades. Segundo fato: ele não foi nem revolucionário e muito menos sofrido. Não há nele nada de filosófico e as tintas existenciais que dizem haver em Don Giovanni é questão de quem o escuta, não de quem o compôs. Mozart é então um gênio sem raiva, sem desejo de transcender, sem ousadia inédita. E mesmo assim trata-se de um gênio absoluto, talvez o maior. ------- Esta ópera, vibrante, viva, um de seus sucessos em vida, é de uma alegria de viver contagiante. Tudo aqui é luz, é amor, é sorriso, e mesmo nos seus momentos de drama sentimos como se Mozart piscasse um olho para nós. Ele diz o tempo todo: Veja! Isto não é lindo? --------------- Meio termo entre o mundo alemão de Beethoven e o mundo solar e italiano de Rossini, a Austria do católico Mozart era então, por volta de 1780, uma terra de misturas. Língua alemã, religião de Roma, vizinhança turca, territórios eslavos, tudo nela era sedução de contrastes. Mozart, viajando entre Viena e Praga, lutava para se afirmar nesse universo. Ele se sabia artista, mas queria luxo, queria vencer, queria poder. Le Nozze di Figaro é tudo isso. Mundo colorido que nos faz viajar longe. Acima de tudo obra de suprema beleza. --------------- Georg Solti é o homem certo para reger. Filarmonica de Londres em 1981. Kiri Te Kanawa começava seu reinado, uma voz de sonho. Feminina ao extremo, voadora, flexível, viva. Há ainda Lucia Popp, Frederica Von Stade, Samuel Ramey...quem conhece ópera ama todos eles. ----------------- É um tipo de arte morta? Bela questão. Se eu a amo e se eu a escuto morta não está. Arte morta é aquela que deixa de ser apreciada por deixar de fazer sentido. Digamos então que é uma fórmula mágica que se perdeu no vento. É isso.