TELEVISION - MARQUEE MOON
1977. Eis um ano que a crítica adora. Talvez seja na verdade o ano favorito deles. Eu lembro dessa época. Lembro bem de julho, agosto de 77. Eu lia a revista POP e nela se falava de um tal de punk rock. Do jeito que falavam, parecia que Punk era um tipo de Rolling Stones mal tocado. Pois é. O Made in Brasil, banda de SP, dizia ser agora punk. Eu tinha um amigo, Darcio, que se auto proclamava Joãozinho Podre do Brasil. Ele usava uma corrente amarrada na cintura e um cadeado no pescoço. All Star preto e jeans justo e curto. Darcio era o cara mais burro da sala. Quase um demente. Com seu cabelo muito curto, era tudo que eu conhecia como "um punk". ---------------- Se falava de Sex Pistols. E de Patti Smith. Os críticos da POP amavam Patti Smith e New York Dolls, mas tinham certo desprezo por Sex Pistols. Lembro que uma matéria sobre as novas bandas colocou Ramones lá embaixo. Não sabiam tocar. The Clash chamaram de "não muito ruim". Houve o lançamento de LPs punks: The Runaways, Eddie and The Hot Rods. Nada disso era punk, mas faz de conta que era. Num gibi meio podre que comprei numa banca suja se falava de New York Dolls, Patti Smith, Ramones e de Television. Era a cena de New York. ----------------- Eu tive o disco Marquee Moon em 1981 e fiquei com ele duas semanas. Logo passei adiante. Diziam parecer Velvet Underground mas tudo que ouvi foi uma voz muito, muito ruim. Perdi o interesse. --------------- Ouvi de novo hoje e ainda acho a voz de Tom Verlaine muito, muito ruim. Mas as guitarras, as famosas guitarras de Tom e de Richard Lloyd são muito boas. Uma vez disseram que eram como as de John Cippolina, do Quicksilver Messenger Service. Mas Tom diz que não, sua fonte é The Ventures. E claro, Lou Reed + Sterling Morrison. ------------ Fred Smith é um belo contra baixo. E sim, há algo de Velvet aqui. Mas não a banda barulhenta dos tempos de John Cale. É o Velvet no final, do tempo dos irmãos Yule. Pixies. Lembrei dos Pixies. Television é pai, óbvio, da cena indie dos anos de 1987-1990. Weezer. Replacements. Em 1975 eles criaram a coisa. Coisa que eu acho de uma chatice atroz. Mas que tem seus momentos ( tou falando dos indie ). ----------- O disco em si, tão incensado até hoje, ele é legal e é uma merda. A dinâmica das duas guitarras é ótima e Guiding light por exemplo, é tão boa que poderia ser faixa do Exile on Main Street. Mas a voz de Tom Verlaine é tão ruim que faz a gente achar que David Byrne é um grande cantor. ------------- Aliás, 1977 teve este disco, e além dos citados, Talking Heads 77, Low do Bowie e Before and After Science do Eno. E Trans Europe Express do Kraftwerk. Foi um grande ano.