SEIJI OZAWA REGE O CONCERTO NÚMERO 5 PARA PIANO E ORQUESTRA DE BEETHOVEN.

Nos anos 80 yuppies, os tais jovens bem sucedidos, consumiam música clássica. Na verdade eles consumiam tudo. Foi uma pena o Brasil estar nas mãos de povo tão ladrão, foi tempo de fartura mundial. E nesse frenesi consumista, Zubin Mehta e Seiji Ozawa eram considerados os novos maestros superstars. Mehta se destacava por ser indiano, e Ozawa por sua cabeleira rocknroll e suas roupas moderninhas. Nenhum dos dois era nem sombra para maestros geniais, mas no mundo pop eram os tais. Aqui, em 1981, Ozawa rege a Sinfonica de Boston e ao lado do veterano pianista Rudolf Serkin, executa o concerto 5 de Beethoven. A gravação é ao estilo yuppie de então: perfeito e sem brilho. Não há ímpeto, não há fogo, não há uma visão particular. Mas se voce me perguntar onde o erro, também não saberei apontar. Sem erros e sem acertos. Já Serkin tem o brilho de quem tocou a peça mais de cem vezes. É como um caçador em selva palmilhada: ele sabe onde o leão vive. ----------------- O concerto é um novo paradigma, pela primeira vez um concerto era sinfônico. Ou seja, a orquestra tinha partes tão importantes quanto o instrumento solista. Em Mozart ou Haydn a orquestra "acompanha o solista", aqui ela é parte da obra, não acompanha, toca sua parte. Piano e orquestra combinam, não há subordinação. Assim como Beethoven deu a independência do criador em relação ao mecenas, ele dá a liberdade à orquestra. Como arte musical em si, nunca é demais falar que a obra caminha em perfeição. O mestre leva a música para onde deseja. O segundo movimento, sublime, é de beleza heroica. Mora a nobreza nesta música. Nunca mais se fará tal tipo de arte porque o mundo não mais quer algo de nobre. Beethoven nos esmagaria. Sua superioridade nos é intolerável. É aquela do heroi diante do rufião. --------------- Não é a melhor versão do mestre a que mora neste CD. Mas é Beethoven.