OS PECADOS TÃO BONS

Pauline Kael uma vez escreveu sobre o prazer de assistir filmes pop. Os filmes deliciosos, sem pretensão alguma de ser arte, e que eram muito melhores que 99% dos filmes que venciam prêmios. Ela citava diretores como Raoul Walsh ou Michael Curtiz como alguns daqueles que faziam os filmes que davam saudades. ------------- Na música POP ou Rock existe isso também. Canções perfeitas que nos dão 3 minutos de absoluto prazer. Sublimes, elas condensam em alguns acordes e um arranjo todo o valor de uma obra completa. São lindas. São deliciosas. São imortais, e para quem já tentou compor uma, são muito difíceis de fazer. Quando um cara consegue repetir o feito mais de uma vez, pronto, vira estrela. A maioria acerta na mosca uma vez. E é só. ------------- Tudo é inesquecível, 90% foi composta no auge da venda de discos e no apogeu do formato CANÇÃO, entre 1969-1979. Era o tempo em que sentir dor de amor era parte do se tornar adulto, introdução, refrão e desenvolvimento era molde ainda fresco, boa voz era lei e tudo parecia sempre bonito e bem feito. Nos anos 80 isso viraria uma prisão e não mais uma fórmula. O excesso mataria o molde. Tudo passaria a parecer fake. ( E os arranjos, todos feitos para teclados programados, se tornariam anônimos ). --------------- Mas para quem, por volta de 1976, ouvia rádio e começava a comprar discos....como esquecer a primeira vez que voce ouviu Mama told not to come, com os THREE DOG NIGHTS? O bom humor e o piano elétrico safado, o coro afinado e a riqueza da mudança de ritmo, tudo isso em apenas dois minutos e meio!!!!! E a sofisticada pegada jazzy de Seals and Crofts com Diamond girl? O instrumental hiper profissional e sem esforço algum seus ouvidos aprendendo a escutar em detalhe. O rádio era uma escola. Dr. Hook teve When you are in love with a beautiful woman, o tipo da música que voce amava ouvir no rádio do carro, voltando pra casa de madrugada, a luz do dial iluminando o interior do veículo. MUNGO JERRY com In the summertime, otimismo em forma de som. As dores do primeiro amor cantadas pelos HOLLIES, The air that i breath era um tipo de Werther para minha geração, e IM DOWN era nosso Rimbaud. Sentir amor, sofrer por amor era coisa bonita. ------------- Cat Stevens tinha o dom de ser delicado e Oh Very Young tinha piano de gênio. Uma canção perfeita, mágica e profundamente melancólica. Por falar em dor, Gaye de Clifford T Ward era tão fofa e amarga que fazia chorar. Aos nove anos a gente já sabia que amor doía. Deus! Que canção bonita!!!! Gary Glitter dava o tom de esculacho, entre 71 e 74 não tinha ninguém que vendia mais na UK. Neil Sedaka teve Laughter in the rain e está pra nascer música mais contente. Eu falei contente? Taí uma palavra que sumiu. Alguém ainda se sente contente? Im not in love é a obra prima do pop. Meses para terminar a produção, um arranjo de vozes que deu um trabalho imenso e uma perfeição beethoviana. Chega ser um milagre. Ouça com atenção! ------ O Abba enfileirou dezenas de POP master, mas SOS é minha mais amada. Deliciosa! Como é o Exile cantando kiss you all over ou Andy Kim com Rock me gently. Linha de produção? Sim! E Beleza imorredoura também! Eu postei. Ouve. Aqui não é radio, mas elas são pra sempre. PS: All By Myself de Eric Carmen, que usava base de Rachmaninov, era desesperadamente bela, e que voz!!!!! Talvez seja ela o ícone da dor de amor em forma de POP magnífico. Já em termos de alegria juvenil genial, nada bate a farra de Sweet com Ballroom Blitz.