CHESTERTON E OS ESCRITORES

Li ontem uma frase maravilhosa de Chesterton: "Tenho vergonha da maioria dos meus colegas escritores. Respeito e amo muito mais a opinião do povo, dos trabalhadores mais humildes, que as frases pomposas e tolas dos autores de livros." Na fase final de minha vida, talvez meus últimos vinte anos, descobri que há muito mais o que aprender com um varredor de rua ou um técnico que instala os fios da minha rua, que com 99% dos autores vaidosos dos livros que enfeitam a página virtual de uma livraria. Preciso dizer porque? ------------- Eu fui como eles. Eu citava, achando ser isso alguma sabedoria, o autor da moda ou da anti moda. E ignorava que tudo que esse autor sabia era aquilo que havia lido de outro autor. Se eu fosse mais fundo, veria que a sabedoria desses autores era uma corrente sem fim de páginas aborrecidas que se vendiam como "vida real". Mas Chesterton nem fala de sabedoria. O que ele fala é da repugnante tirania intelectual desses escribas. Eles são vaidosos, e não admitem que alguém não pague tributo à sua inteligência. Têm a flácida autoridade da página impressa, um tipo de status que morreu e virou fetiche. Não querem perceber, em 2021, que escritores são importantes hoje apenas para outros escritores ( importantes enquanto gurus, guias, líderes ). Um bom autor, e existem e sempre irão existir, é importante como uma pessoa que escreve coisas boas. Fora disso, ele é tão relevante quanto o padeiro ou o borracheiro. Amo escritores que criam páginas. Odeio homens que se vêm como reis em meio à plebe ignorante. Chesterton sabia disso. Heminguay também. --------------- Heminguay foi execrado por não suportar a companhia de seus colegas. Inventaram até que ele queria esconder uma homossexualidade latente ( esse é o motivo cliché de todo famoso que foge da imprensa ). Heminguay preferia andar e beber com caçadores, toureiros, velhos pescadores e prostitutas que com Fitzgerald, Dos Passos ou Steinbeck. Na boa: eu também. Que deus me livre de ter como amigo um mala como Fitzgerald, um chato como John dos Passos ou um revolucionário chorão como Steinbeck. Dos três, Fitzgerald é o único que gosto como autor, COMO AUTOR, não como ser humano ou autoridade no que quer que seja. Heminguay, como Chesterton, entendeu o vazio vaidoso de seus colegas, mas ao contrário de Chesterton, que simplesmente se afastou e viveu a vida, Heminguay os agredia sem parar. Heminguay não era ressentido ( ele elogiava sempre Joyce e Tolsotoi, para ele: dois homens de verdade ), ele apenas via a vacuidade. Não há nada mais ridículo sobre a Terra que um intelectual que se acha superior a qualquer outro homem. A mensagem de Heminguay era: Voce, escrevinhador como eu, é apenas um frangote inutil que não sabe viver sem um frentista ou um sapateiro. A mensagem de Chesterton era: O que um homem que sabe apenas aquilo que leu e que foi educado a crer no que lê, sabe sobre a vida real? -------------- Wittgeinstein viveu a mesma certeza. Por isso brigava consigo mesmo. ------------------------ No círculo cômico dos inteligentes, a vida hoje é uma mistura de circo com muro de lamentações, no mundo dos meus alunos e de seus pais, ela é aquilo que sempre foi: dor e alegria, desejo e medo em doses quase iguais. Excetuando os quatro ou cinco perdidos em aulas de filosofia que ensinam a obedecer e jamais a pensar, eles são aquilo que sempre foram: gozadores, piadistas, bagunceiros, irresponsáveis, indisciplinados. E quer saber? Graças a Deus.