MÚSICA PARA COCHILAR.....MA VLAST- BEDRICH SMÉTANA
Pessoas que não gostam de música erudita dizem que lhes dá sono. Eu digo que o mesmo acontece com aulas de matemática. E que, tanto uma quanto a outra, são das maiores criações da alma humana. O problema é que a matemática, assim como a música, possuem um código e exigem que voce se esforce para obter algum prazer. Ambas são inimigas da passividade. Mas Smétana é o tipo de compositor que dá sono....mesmo em mim. ------------------------- Ma Vlast, Terra de Meu Pai, é sua obra central, feita no fim do século XIX. Smétana era tcheco e fez parte do movimento de renascimento da alma de seu país. Ouço sua obra....e cochilo. Tento agora dizer porque. ---------------------- Não é dificil explicar: é música simples. Possui duas características que traem a música erudita ruim: parece trilha sonora de cinema e lembra em vários momentos algum tipo de hino nacional esquecido. Ora, trilha de cinema é o barateamento do erudito e hino nacional é apenas isso: algo para se cantar antes de algum evento. Smétana faz um orquestramento pobre, é o oposto de seu colega Dvorak, basta prestar atenção no que há por detrás da melodia central: nada. A orquestra inteira toca um uníssono quase todo o tempo. É uma profusão de la la la la la e bum tcha bum tcha dum dum....Sua mente nada tem a procurar, a descobrir, a investigar, nada surpreende, nada causa espanto, nada instiga. Daí o sono. -------------- O maestro é Zubin Mehta e isso não ajuda. Mehta é daqueles maestros muito famosos que deixam tudo doce e banal. Ele apara arestas, diminui contrastes, é um diluidor. Ou seja, aqui temos a união do comum com o edulcorado. Vem o sono.... ------------------- Estarei sendo injusto com Smétana? Creio que não. O período do século XIX que vai de 1860 à 1880 foi bem complicado. Abundam os adocicados, os exagerados vazios, os fru frus. Por isso logo vieram os modernistas para acordar o povo adormecido. Smétana precisa demais de ruídos russos ou das surpresas de Debussy.