DYLAN THOMAS E O PROBLEMA DA TRADUÇÃO
Releio Dylan Thomas sem entender nada. Mas é agradável, as palavras soam bem. Ler Dylan em inglês já é dificil, em tradução, como li, é perder tempo. Mas é agradável. Quem traduziu foi Ivan Junqueira e traduziu bem. O problema, intransponível, é que Dylan amava as palavras e criava usando o som das palavras, a música do verbo. Ele não era um criador de imagens poéticos e sim de sons de poesia. Traduzir um poeta de imagens é bem mais possível, voce transfere o quadro para novas tintas. Mas quando a base criativa é o som de W ou de um KY...como fazer? É impossível. ------------- Dylan foi uma estrela em seu tempo. Nos anos 30 e 40 ele foi o poeta mais famoso do mundo. Tinha bela voz e fazia aparições no rádio por isso. Bebia às toneladas e por isso morreu aos 39. Seu pai foi poeta frustrado, professor de lingua, e por isso dirigiu o filho para as letras. O nome Dylan vem do misticismo celta: filho do mar. ------------- Dizem hoje que Dylan Thomas não vai sobreviver. Acho uma tolice falar isso. Se voce fala que um poeta está esquecido é porque ele não está. Como estará daqui a 50 anos? Quem sabe? ------------------ Dylan escrevia devagar. Como todo poeta que se baseia em palavras, ele corrigia muito. Lutava com a pedra-palavra. Esculpia. Amava Joyce. Lendo-o eu entendo o que está escrito, é simples entender que um barco singra, por exemplo...o que disse que não entendo é onde mora a poesia daquilo, onde está a entrada para a profundidade da mensagem, onde a genialidade do poeta. Ela mora na forma verbal e por ser tradução não mora mais, ficou no inglês. Em minha língua o barco que singra é apenas e sempre será apenas um barco que singra. ------------ Mas é agradável ver o barco singrar.