O REQUIEM ALEMÃO - JOHANNES BRAHMS. ATERRADOR ( ESTÁ SE TORNANDO DIFÍCIL DEMAIS ENCONTRAR ADJETIVOS )

Brahms nunca é simples. Não que ele seja complicado, ele é sério. Nada do que ele fez parece juvenil. Nada parece bondoso como Haydn ou leve como Mozart. Também não há traços da megalomania de Beethoven. Nem da fé de Bach. Brahms é ele mesmo sempre. Imenso. ------------- Ele e Wagner dominaram a música da segunda metade do século XIX. Ou voce era Wagner ou era Brahms. Wagner era espalhafatoso, exagerado, apaixonado e sua música sempre contava uma história e descrevia uma visão. Brahms era sutil, discreto, controlado e sua música era "apenas" som. Nada de histórias, mitos, lendas ou filosofices. Era música absoluta. Eu acho Wagner bastante infantil. Brahms é muito, muito maior. -------------- Entender Brahms nunca é simples porque ele não apela. Sua música não é feita para inspirar ou para descrever estados de alma. Ela existe para ser ouvida. Mas eis aqui o Requiem Alemão, uma longa obra, mais de uma hora e dez, escrita para a nação alemã. Aqui há mensagem porque é uma obra com palavras. Ele usa orquestra, coro e dois solistas, barítono e soprano. O tom é solene, às vezes soturno, muitas vezes eloquente. Ouço uma gravação de 1973 com a Orquestra de Londres, regencia de Daniel Barenboim e o coro, magnífico, de Edimburgo. Edith Mathis e o imortal Dietrich Fischer-Dieskau são os solistas. ---------- São sete movimentos. De cara já ouvimos o modo Brahms de construção: discreto. A música começa pianíssima e vai, lenta, em crescendo inexorável. Brahms modula os timbres, alterna volumes, mas tudo em seu tempo, sem pressa e sem erro algum. A beleza é atingida e creia-me, poucos souberam produzir tanta beleza. ------------ Ouça o final do terceiro movimento. Esse segmento dura cerca de 17 minutos. Fischer-Dieskau, a minha voz favorita, entoa uma melodia hispnótica, a orquestra, discreta, harmonizando a peça encantadora. Mas, súbito, o coro, imenso, começa a erguer suas vozes. Num crescendo, voce começa a sentir algum tipo de exaltação em sua alma. As vozes aumentam seu volume, invadem todo o espaço, rodopiam e então, em uníssono alçam voo. Fiquei profundamente comovido. É quase um tipo de milagre. -------------- A obra inteira tem outros momentos de elevação. Mas esse é especial. Brahms, mestre que é, faz o que quer com nosso sentido. Ele é o maestro de nossa alma. Bravíssimo!!!!!!