A MUDANÇA

Um texto para voce, estrangeiro que me lê. Entender o Brasil é fácil, dizer que é difícil é um daqueles chavões que todos repetem sem pensar no que falam. Digo para voces que a única coisa que os surpreenderia é que aqui são os conservadores que desejam mudanças, enquanto os progressistas desejam que tudo fique na mesma. Explico melhor. O progressista brasileiro pensa, foi educado a pensar, que ele é a vanguarda da mudança, mas na verdade esse tipo de pessoa deseja apenas uma coisa: que tudo seja o que sempre foi. Ou melhor, que um dia o Brasil volte a ser aquilo que ele acha que foi em 1958. É um tipo estranhíssimo! Moderno em costumes e na superfície, extremamente apegado ao status quo em economia e na política hardware. Para ele, coisas como Chico, Globo, jornais, Fernanda, são intocáveis. Fato bizarro: são modernos que amam a cultura oficial. Bossa nova e um sambinha, cinema novo e a arquitetura medíocre de Brasilia, eis sua modernidade. Voce já sacou né meu querido gringo: eles não perecebem que são Pavlovs Dogs. São netos, filhos e pais do eterno mesmo. ------------- O conservador, como eu, é coisa alienígena aqui. Somos algo que não existe desde pelo menos 1889. Não, não somos pró monarquia, mas sabemos história. A república sempre foi um acordo entre cavalheiros. Hoje eu roubo e amanhã voce pode roubar. Pra massa a gente finge brigar. Pode me atacar, desde que haja um limite aceitável. ------------ Conservadores ficaram fora desse acordo. Talvez porque eles queiram, desde sempre, menos estado e menos dumping. Ter no poder um cara que diminuísse as fontes de roubo, empresas estatais ou privadas domesticadas, seria muito perigoso. Então educou-se a massa a reagir, como o cão de Pavlov, à palavra conservador com instintivo horror. -------------- Sim caro gringo, tivemos governos de direita que odiavam a esquerda. Mas eram todos hiper mega estatizantes. Getúlio é amado por vários esquerdistas por isso. O gaúcho matava comunas, mas o fato de ser estatizante pesa mais para o senso de valor da esquerda. Nossa direita sempre foi uma direita light. Modos de right wing, ações de left. Os militares foram assim. Ódio ao estrangeiro. Estatizações. Regulamentação em tudo. Saiba que vários conservadores foram calados em 1964. Inclusive Jânio. Mas a esquerda finge que não. ------------------ Eu fui um cãozinho da esquerda a vida toda. Quer dizer, quase toda. Pra mim aquilo que a Folha publicava era a lei. Eu achava que questionava a vida, mas minhas questões eram pautadas pela cultura oficial. A cultura da esquerda bonitinha, aquela que ama Drummond e Caetano. Pra mim, Reagan era um monstro, Thatcher uma idiota e a direita era sempre burra. Jamais me ocorreu perguntar porque. Eu SABIA QUE ERA, que sempre seria assim. E não queria saber de onde vinha esse "EU SABIA". ------------------- Não, eu não sabia. --------------------- O Brasil dos anos 80 institucionalizou o CLUBE. Roubo hoje e voce rouba amanhã. A cara dos anos 80 é aquele way of life que luta por sobreviver até hoje: estatais fortes, sistema financeiro pró bancos, deputados bem pagos, discursos que nada dizem, oposição light. Não é política, é um tipo de massonaria. Há regras que não podem ser desafiadas. Há limites estreitos. --------------- Voce sabe que temos um presidente que tenta quebrar todas essas regras. E voce sabe que isso causa pavor ao sistema bem afinado. É como se uma sanfona tocasse numa orquestra. A reação do costume é terrível. --------------------- Eu não gostava muito do presidente, mas ao ver o tamanho do ódio que ele provoca, e principlamente quem são esses que mais o odeiam, não posso deixar de o defender. Alguém que é tão detestado por gente tão ruim só pode ter algo de bom. ------------------------ Há dois tipos de oposição ao presidente: Ladrões em geral e preconceituosos alienados. Os ladrões têm motivos para o ódio. Canais tradicionais de roubo estão fechados. Por enquanto. Os preconceituosos dizem amém a tudo que os ladrões falam. E por serem bem treinados, não têm como perceber isso. São os que dizem ELE NÃO sem raciocinar, e jamais imaginam para quem estão automaticamente dizendo ELE PODE SIM. --------------------- Tenho amigos que escapam dessa divisão. Simplesmente se recusam a pensar ou crer em algo. Niilistas. Respeito muito pois já fui assim. A duras penas conseguem não se comprometer. É uma posição boa. Mas não sei quanto tempo pode ser mantida. ------------------------ O caso do Voto é típico do adestramento pavloviano. A oposição diz que essa questão é criada pelo presidente com o intuito de alegar uma possível derrota roubada. Ora, se o presidente quer isso, então é muito fácil destruir esse plano: permita o voto auditável e acabe com 100% das chances de golpe via choro. Raciocínio claro, simples e muito inconstestável. Mas a esquerda nem cogita isso. O que faz pensar no porque dessa teimosia burra ... ------------------- O fato, é que conhecendo Bolsonaro como conheço, ele na verdade nem leva muito a sério essa história de voto auditável. Ele apenas ri das patetices que a oposição defende. Não subestime um cara que está a tanto tempo sobrevivendo ao ódio de gente tão poderosa. -------------------- Voce pode estar pensando: Nossa! Gastar tanto espaço com um presidente tão simplório! Mas eis a questão que me intriga. Um homem que foi eleito sem apoio de jornal ou TV e sem espaço nenhum, com dois tostões para gastar e sem partido forte, eis um tema maravilhoso para análises imparciais e teses sérias. Mas nossa intelectualidade, qual? existe?, não só perde a chance de estudar esse fenômeno, como nem mesmo o reconhece como tal. De volta ao poder, irão apagar sua história, cancelar estes anos fantásticos, como se nunca houvessem ocorrido. Burrice não tem limite. Tudo que a oposição quer é a volta do looping infinito dos anos 80 tão harmônicos. ---------------------------- Isso é o Brasil my friend. É preciso coragem, muita coragem para ser conservador aqui. As boquinhas se fecham quando voce não se apresenta como "esquerda light". Meios culturais e financeiros são 100% formatados para pensamento único e sem dissonâncias. Mas eu olhei o outro lado. Vi o mundo fora da caverna. E amei aquilo que observei. A luz do sol e a variedade da natureza. Pela primeira vez na vida posso dizer que amo e torço pelo Brasil. Hoje ele é meu. Um pouquinho meu. Até quando?