SINCRONICIDADE - JUNG

Não é um dos melhores textos de Jung. E antes que voce reclame, já aviso que gosto muito desse psicólogo suiço. Jung não teve tempo para desenvolver melhor esse conceito novo, a sincronicidade, e do jeito que está aqui, parece bastante precário. ------------- Do livro todo, a melhor intuição é a de perceber, muito antes que qualquer outro colega, que a matemática, a física e a estatística seriam as melhores ferramentas para a psicologia do futuro. Jung estava por dentro, e se sentia fascinado com as então recentes descobertas da física sub atômica. Wolfgang Pauli o ajudou neste volume, lhe deu dicas e informações sobre a física mais moderna. Jung percebeu que após a queda da física mecânica-newtoniana, o império da causa e efeito como lei única e imutável ruía. Assim como ocorria no espaço cósmico e no mundo infimamente pequeno, nossa mente teria processos misteriosos, que escapariam da lei observável. Ele passa usar dados estatísticos e observações in loco para tentar provar a sincronicidade. Sincronicidade sendo um tipo de fenômeno mental sem motivo, sem causa, sem porque. Se Jung tivesse vivido mais, ele entenderia, teria percebido que o campo do acausal não suporta coisas como prova, teste ou previsão. Para obter uma prova sicrônica ele usou o método clássico científico. Não poderia jamais dar certo. ------------- Grosso modo, Jung intui que nossos pensamentos, nossas percepções não racionais independem de tempo e espaço. Nisso ele acerta na mosca! Fato mais que aceito hoje, nossa vida emocional, espiritual, intuitiva não se insere dentro do mundo de tempo e espaço. Independe de local, distância ou data. Isso porque, e aqui Jung acerta outra vez, nosso inconscinete coletivo é anterior a criação da vida como tempo e local definido. Nosso espírito, chamemos esse campo assim, está além e antes do tempo, além e abaixo do aqui e agora. Bergson criou toda uma filosofia sobre isso. A física hoje aceita essa ideia sem qualquer problema. ---------------- Jung se arrisca mais ao tentar entender onde vive nosso espírito. Se o cérebro é substância dentro do tempo e do espaço, como pode ele criar algo que independe de tempo e espaço? Vários casos de experiêcias de coma, de trauma mortal, de parada cardíaca são relatados. Pessoas que viram seu corpo como algo independente de si mesmo. Casos que se repetem toda semana, todo dia, toda hora mundo afora. Jung parte daí para criar a sincronicidade. --------------------- Um dia eu estava andando na rua e pensei, não sei porque, numa amiga que não via fazia cinco anos. Assim que ergo os olhos vejo-a diante de mim, parada no semáforo. Isso é sincronicidade. Jung diz não haver para isso nenhuma explicação racional. Isso mesmo, ele não teme dizer que nossa razão jamais entenderá esse tipo de fenômeno. Na mente existe todo um universo incompreensível, milagroso. A sincronicidade é um deles. ------------- Ao pensar minha amiga eu adentrei, sem saber e sem querer, o mundo sem tempo e sem local da minha mente. Um lugar mental que não é um lugar, é um todo, um momento que não existe como momento, é um eterno agora. Nesse universo voce acessa, sem pensar nisso, símbolos, sonhos, visões, lembranças, futuros que são sempre presentes. -------------------- Bonito? Jung insiste que na verdade tememos muito esse mundo. ------------- Mas afinal, onde fica nossa mente espiritual? Jung diz que na sincronicidade, nosso espírito fica paralelo ao nosso corpo e não dentro de nós. Haveria um paralelismo sincrônico entre nosso cérebro, animal, sólido, funcional, e nosso espírito, intuitivo, inconsciente, sem tempo e lugar, sem ego. Ele evita levar isso ao campo da religião, nada de conversa sobre se esse espírito viveria sem um corpo etc etc. Mas ele não teme o risco. Essa tese é corajosa. ----------------- Não, não é um bom livro. As teses são interessantes, mas como disse, ele não teve tempo para o desenvolver. É um rascunho. A tão famosa sincronicidade de Jung é apenas uma ideia que não pode ser pensada à fundo. Pena.