O APOGEU

Não lembro mais onde li isso, mas alguém disse que uma orquestra sinfônica é uma espécie de milagre. Pois ouço o último movimento da Quinta Sinfonia de Mahler e essa frase vem à minha mente. O genial compositor austríaco criou um tipo de fuga onde toda a orquestra entra numa espécie de frenesi feliz. São tantos timbres, tanto som, tanta harmonia sendo colocada em risco, que há a sensação de que o engenho colocado ali, na composição e na execução, prova a existência de um milagre. Mahler era místico, mas não é disso que falo. Estou pensando na evolução humana maravilhosa que chegou em seu apogeu musical nesse tipo de obra. É perfeito. E é incrivelmente arriscado. ----------------- Toda arte tem seu apogeu, sua queda, sua quase extinção como forma artística, e um renascimento. O apogeu da música se dá entre Bach e Debussy, meros 150 anos de sons imaginados. Antes houve muita coisa boa, depois também, mas a queda se dá sem parar. Não é por acaso que esse apogeu se dá ao mesmo tempo no romance. Quem não entende música não percebe que uma obra prima é como um romance genial, uma narrativa e um universo criado e acabado em si mesmo. ------------- Não falarei da pintura ou arquitetura ou dança. Como arte que são, todas têm ou terão seus apogeus e quedas. Sua quase morte e renascimento. A arte, como a vida, é circular. ------------------ A versão que ouvi tem o Concetgebouw de Amsterdan com Bernard Haitink. Não dá pra ser melhor. Mahler era um gênio. No CD constam também as 4 canções que Mahler compôs ( lieder ). Voz e orquestra. Emocionante. Hermann Prey é o barítono. ------------ Não sei se esta minha fase erudita irá estragar meu gosto para o rock. Mas tem sido uma jornada fantástica.