BEETHOVEN E O PIANO

Wilhelm Kempff viveu todo o século XX e foi um dos cinco maiores pianistas da época. Alfred Brendel, outro dos gigantes, dizia que Kempff tocava como uma força da natureza. O piano em sua mãos se tornava uma harpa eólica, suas mãos eram como o vento. Em 1962 ele gravou os concertos para piano de Beethoven, todos com a Filarmônica de Berlin, Ferdinand Leitner na batuta. Ouço agora o número 5, concerto que já escutei antes e não me conquistou. ------------------ Escrevi em outro post que na música clássica é necessário conhecer uma obra para poder a amar. Ao contrário do POP, no clássico dificilmente voce se apaixona a primeira vista. Seus ouvidos são cativados e não tomados. Pois agora este concerto me pega. Ele é vasto, nobre, clássico, e incrivelmente rico. Kempff exibe sua técnica: são constelações de notas colocadas no lugar exato, mas essa exatidão jamais mata a naturalidade, Kempff domina o teclado sem o subjugar. Nada há de exibicionista nele, o que há é maestria total. A orquestra é discreta, ele a subjuga ( subjuga a Filarmonica de Berlin! ), seu piano voa na gravação. O movimento final é golpe mortal: ele vence. ---------------------- Ouço também a famosa Sonata ao Luar, com Emil Gilels, outro dos grandes pianistas do século. Russo, morto nos anos 80, Gilels faz um pequeno milagre, toca Beethoven de uma maneira única, seu fraseado deixa brechas de silêncio, exita, quase tropeça, cria um ritmo seu, próprio. A mão esquerda é solene e seguríssima, a mão direita fala um poema que vemos ser escrito enquanto é meditado. Eis a definição: Gilels medita. --------------------- O piano é, não tenho dúvida alguma, o rei dos instrumentos. Ouça estas duas obras e descubra o quanto aquele monstro de madeira e cordas, teclas e pedais pode ser magnífico.