SÓ O AMOR IMPORTA
Quando o amor acaba, o que mais nos machuca é na verdade a desconstrução do amor. Mais que a falta da pessoa amada, o lento desmoronar da casa que foi construída, do mundo que foi criado, nos dilacera. Ao perceber que o amor se foi, sentimos a triste dor de entender que a história acabou. E então temos de assistir, agora, as páginas desse livro serem arrancadas, os tijolos retirados um a um, e voltamos a ser o que éramos antes do amor surgir, sós no mundo, desamparados. Encaramos o fato: amadurecemos para amar, comemos e nos protegemos para amar, não importa se o amor é uma imposição da biologia ou uma ilusão religiosa; ele é o que importa. Filosofamos, pensamos em política, fazemos arte e tudo isso é importante, mas não há nada remotamente parecido com o amor em seu poder de dar alegria, prazer e em destruir também. Morremos por coração partido, matamos para procriar, e perdemos todo prazer em viver ao sentir que nosso tempo para amar está encerrado. ------------ Não, não estou amando e nem em crise de meia idade. É que ouvi esse concerto de Rachmaninoff e me lembrei de tudo isso. E com ele veio a canção de sucesso de Eric Carmen, sucesso em 1976. Já escrevi antes, as paradas de sucesso entre 1972-1979 eram dominadas por maravilhosas canções românticas, e isso fez da geração que cresceu nesses anos um bando de românticos incorrigíveis. Não há como passar impune sendo exposto aos 14 anos a um ano de All By Myself. Mesmo odiando essa canção na época, ela fez parte de meu ambiente. ------------- Ouça as duas abaixo.