SINFONIA NÚMERO 5 - GUSTAV MAHLER....COMO APRENDI A ENTENDER
A Vienna de 1900 era um lugar mágico. Rica, ela unia culturas, e daí sua complexidade. Era católica e era judia, era Europa mas era acossada por turcos. Na rua voce podia cruzar com Wittgenstein e Klimt e num café com Freud ou Kraus. Brincando num parque voce veria as crianças Billy Wilder e Max Ophuls. Mahler era entre todos eles o mais famoso, não por ser um compositor, mas por ser o maestro mais famoso do mundo. Em vida foi Mahler rico e famoso, mas seu trabalho de composição era visto como excêntrico. Não sei se é fato, mas li vários autores atuais que dizem ser Mahler o músico mais executado hoje, que após quase duzentos anos, Beethoven foi destronado. O alemão continuaria a ser o maior gênio da música, e Mahler é aquele que fala mais de perto à nosso tempo. Well..... ------------------------------------- Coloco a quinta sinfonia para rodar e não entendo nada. Sim, é complexo, sim, é rico, mas o que é isto? São ruídos de fundo e melodias à frente sendo abortadas antes de seu desenvolvimento. Onde a linha que me faça entender do que se trata? Parece uma tapeçaria de sons, quase aleatórios. Não absorvo este mundo: metais que irrompem e desaparecem, cordas que se desvanecem, barulho que morre antes de chegar ao ponto, música incompleta? Ou não? ------------------ Uma da maiores tolices deste nosso tempo preguiçoso é crer que arte é repouso. Que uma peça de arte é boa quando entrega todo seu segredo com facilidade. Que ter de lutar para entender um livro ou um filme significa que esse livro ou esse filme é falho. Consequência da ditadura da pornografia, hoje procura-se o gozo imediato, sem preparação e sem segredo. Um romance deve dar prazer na terceira linha. ( Por favor, entenda prazer como GANHO. Prazer em aprender, prazer em saber, prazer em rir, algum prazer. A fruição do BELO não se inclui aqui. ) ------------------------ Continuo na quinta de Mahler. Passaram dez minutos, a aparente anarquia continua e então brota na minha mente uma imagem. EIS O SEGREDO. Vejo o COSMOS. Voando eu passo por nuvens de gás colorido, planetas que giram, constelações e escuridões. Eis um cometa, eis um mundo que explode, um outro para de girar. Acelero meu voo, interrompo, volto a voar. Aquele universo é imaterial, este são rochas frias, fogo que surge e desaparece, um suspiro de vida, o negror da morte. --------------- Entendi e agora a usufruo. É bela! Meu Deus, é bela! Música cósmica que propõe a visita a universo de sons e de motivos que se movem. Se em Bach a música era aquela de Deus, um universo em ordem rígida, este, de Mahler, é um universo que se expande sem parar. Max Planck publicou em 1900 e esta música prova a ligação mental sub consciente que permeia o mundo. -------------------------- Em meio a todas essas cores há um movimento lento. Não é triste, mas passa longe de ser alegre. Violinos e metais ao fundo, longos acordes, ao contrário do resto da sinfonia, aqui algo dura, permanece, insiste em estar. O som surdo dos metais ao fundo enobrece, o som das cordas, nada doce, antes ácida, eleva. Há peso aqui, há gravidade. Minutos de beleza pesada. Beleza que se impõe. Que se afirma. E que se encerra ao final, momento para sempre. --------------------- Penetrar na quinta de Mahler é crescer como homem.