APRENDENDO A OUVIR COM MOZART

Uma das distinções entre um bom ouvinte e um ouvinte menos bom, é que para o iniciante, toda execução de, por exemplo, o concerto número 20 para piano de Mozart é válida. Um novato quando resolve conhecer esse concerto escolhe qualquer versão, pois ele pensa que todos seguem a mesma partitura e então tanto faz, o que importa é ser Mozart. Sim, my dear, todos usam a mesma partitura, mas assim como cada leitor lê Stendhal de um modo diferente, cada maestro e cada solista lê Mozart a seu modo. O Concerto 20 é desde 1988 minha peça favorita, não sei se ainda é, mas eu a amo e amarei para sempre, e já tendo a escutado mais de 80 vezes, acho que a conheço. Atè o ano passado eu tinha o LP de 1988, com a execução de Eugene List. Novato, eu imaginava ser a única possível, todas seriam iguais. Mas, neste momento de descobertas, compro o cd com a execução de Mitsuko Uchida, disco Philips dos anos 2000. CD bem vendido, Jeffrey Tate é o maestro. Imensa diferença! O andamento é mais rápido que o de List. É mais frio, mais clássico, List romantiza Mozart. Talvez a versão de Uchida seja mais fiel ao compositor. Então pego mais uma versão: Rudolf Serkin com a Orquestra de Londres sob Claudio Abbado. Pronto! Eis a melhor versão! Nem romatica e nem apressada, esta é técnica. Serkin toca melhor que List ou Uchida. O que seria tocar melhor? Ouço notas que os outros dois deixavam de lado. Ouço detalhes mais nítidos, ângulos que não se deixavam ouvir. Serkin tem o brilho que Uchida não tem e possui o rigor que List transforma em sentimento. Se voce, como eu, começa a entender algo da gravação de música clássica, compre pelo menos três versões de suas obras favoritas. Vale muito à pena. Só assim voce assimilará a música em suas várias facetas. Continuo amando as 3 versões, mas agora compreendo o que esse concerto pode ser.