LEONARD BERNSTEIN REGE GERSHWIN E ELE MESMO

Rhapsody in Blue é uma das obras mais ouvidas do século XX. George Gershwin estava muito inspirado quando a compôs. Ela tem toda a amplidão de uma sinfonia e ao mesmo tempo tem a urgência e o balanço do jazz dos anos 20. O primeiro movimento, como uma viagem por New York, é sublime, mas é o segundo, suave e voador, que nos derrete a alma. Gershwin não era muito considerado pelos críticos mais antigos, isso pelo fato dele fazer música POP nas horas vagas. Os tempos mudaram, e hoje suas obras POP têm o respeito que somente as obras perfeitas obtêm. Bernstein rege a Orquestra de LA nos anos 90 e faz aquilo que ele sempre faz: transforma Gershwin em Bernstein. Leonard Bernstein, assim como Herbert Von Karajan, tinha um ego tão grande que ele era incapaz de trabalhar invisivelmente. Para o bem ou para o mal, os dois eram assim. Karajan sempre fazia com que toda obra soasse como Karajan. Alemã, limpa, perfeita, distante, profissional. Isso favorecia suas leituras de Brahms ou de Strauss, mas nos italianos ou em Mozart ele era um desastre. Já Bernstein era showman. Tudo ele deixava brilhante, eufórico, exagerado, barulhento. Isso funcionava em Mahler e em Beethoven, mas aqui nem tudo são rosas. Tenho uma outra versão da Rhapsody com Zubin Mehta e o contraste é total. Mehta é suave, melódico, faz Gershwin soar quase como uma valsa, Bernstein exalta o lado barulhento, é um Gershwin russo. O piano, tocado por Leonard mesmo, é cavalgado. Há várias notas, usadas por Mehta, que Bernie ignora. Resultado? Bom. Sinto não ser a melhor versão, mas serve. Completando o CD temos Bernstein regendo ele mesmo, WEST SIDE STORY. Instrumental, sem vozes. O sonho de Bernstein era ser Gershwin. Não chega perto. Prefiro a versão com vozes, a do filme. Maria está doce demais aqui, quase chata. O resto é bom. Um problema: ouvir WEST SIDE após RHAPSODY desvaloriza WEST SIDE. A distância entre as duas fica exposta. Ouça com dias de distãncia e nunca na sequência.