A CEIA DOS ACUSADOS - DASHIELL HAMMETT ( THE THIN MAN )

Uma das coisas mais bobas nos comentários sobre arte é misturar a vida de uma pessoa com o valor de sua produção. Desse modo, o trabalho de Gauguin, que é genial, parece ainda melhor por ter Gauguin tido uma vida aventurosa. Já Monet parece pior por ter vivido uma existência convencional. Raymond Chandler é melhor que Hammett. Mas Chandler era um escritor de vida nada ousada. O máximo de estranho que ele fazia era beber uns tragos e correr atrás de suas secretárias. Hammett, que também é bom, mas Chandler é maior, teve uma vida mais interessante. Inclusive houve nela a auto destruição que tanto agrada aos fãs adolescentes. Chandler era melhor em tudo. Seus diálogos são mais agudos, mordazes, ferinos, a descrição de ambientes é excelente ( esse o ponto mais fraco de Hammett, não há cenário nele ), e na invenção de enredos Chandler parece mais realista ( o que é uma surpresa, pois foi Hammett quem viveu nesse ambiente de fato ). Dito isso, devo contar que este livro diverte. Menos que o filme. The Thin Man, filme de 1934 da MGM, tem William Powell e Myrna Loy, e quem viu o filme fica imaginando Nick e Nora com as caras dos dois atores. O filme é uma lição de bem viver, é o primeiro casal moderno na tela e os dois fizeram hsitória. Todo casal antenado dos anos 30 queria ser Nick e Nora. O livro não tem nada disso. Aqui Nora é uma coadjuvante e Nick um detetive que bebe muito. Não é engraçado. É esperto e cínico, mas nunca possui o savoir faire que Powell deu ao personagem. Na verdade é um romance com 90% de diálogos. A arte de Hammett é essa e é isso que encantou os europeus, os diálogos. Dash Hammett dá um passo adiante na técnica de Heminguay. Nos anos de 1980 todo mundo lia Hammett. Na década que tinha a pretensão de reviver os anos 30, Dash era um rei. Leia. Em 2021 é ainda uma boa diversão.