ENTRETENIMENTO E ARTE

Daniel Piza falando de Kenneth Tynan diz que a época em que Tynan escreveu, foi o tempo em que entretenimento era arte. Isso me fez pensar. Será puro saudosismo? ------ Li então o perfil que Tynan fez de Bogart. Bogey comparado à Sêneca. O estóico. Todos iremos um dia morrer, e o que importa não é o quanto vivemos, mas sim como morremos. Ninguém soube morrer como Humphrey Bogart. Nos filmes e na vida real. Penso então duas coisas. E as divido aqui com voce:------- Me diga o nome de um ator vivo que seja admirado por seu porteiro e por seu professor de linguística. Por seu garçon e pelo seu escritor favorito. Existem hoje, como sempre existiram, bons atores, alguns ótimos, mas o que Piza diz é: existe entretenimento que seja arte? E Tynan diz: existe arte que seja entretenimento? -------- Humphrey Bogart era amado pelo taxista e por Godard. Assim como o era John Wayne ou James Stewart. A partir dos anos 70 se deu a ruptura. O povão amava Rock Hudson ou Tony Curtis, o intelectual amava Mastroianni ou Max Von Sydow. ------------ Seu moto boy sabe quem é o Benedict? Ele gosta e procura os filmes de Daniel Day Lewis? E voce? Considera Vin Diesel ou Jason Statham artistas? ---------------------- Lembre-se. Em 1967 a banda mais popular do mundo, aquela que era conhecida pelo velho do bar e pelo sambista do morro, essa banda, Beatles, lançou um disco que na época era não só considerado arte, como era até mesmo, esquisito. E pasmem, vendeu aos milhôes. Teste maior, foi influência sobre o cantor mais popular do país. Roberto Carlos. Era arte e era entretenimento. Era POP e era esquisito. -------- Seria como a banda mais POP de 2020, uma que seja conhecida pelo engraxate e pelo seu avô, lançar um disco esqusito e mesmo assim ser número um em vendas. E, mais importante, ser imitada por Gustavo Lima ou Weslley Safadão. ----------------------- Voce pode dizer para mim: Mas Paulo, na TV há arte e entretenimento. ---------- E eu te direi: sua série favorita na Netflix não é conhecida pelo seu jardineiro e nem pelo balconista do buteco. Ela é arte e não é POP. É tão elitista como era Pedro Almodovar em 1998, aquele diretor que chamavam de POP e de sucesso, mas que na verdade era conhecido só por universitários e cinéfilos.---------------De Lubistch à Huston, de Hitchcock à Melville, posso citar montes de cineastas que faziam entretenimento e arte ao mesmo tempo. Que entretinham o zé do metrô e o filósofo chato. ------------- Na música não era diferente. Duke Ellington era POP assim como POP era Cole Porter. -------------- No mundo compartilhado em que vivemos, não há mais espaço para a mistura do muito popular com o ousado. Quem faz arte, ou pensa que faz, contenta-se com sua gang e quem faz entretenimento fica confortável na repetição de uma fórmula. ------------ Diga-se para encerrar, que de Tolstoi à Shakespeare, arte quando misturada à entretenimento é sempre durável. Pois ela oferece o melhor dos mundos: Profundidade com simpatia.