PRECISAMOS FALAR SOBRE O HÁBITO DO PRECONCEITO: PURPLE RAIN-PRINCE. FAZIA 25 ANOS QUE EU NÃO O OUVIA

Em 1984 corria o papo de que Michael Jackson tinha inveja de Prince. Tanto no som como na aparência, MJ lutava para ser Prince. Acho que era verdade. O que tenho certeza é que na minha faculdade, em 84, ninguém ouvia Prince. Purple Rain vendia aos milhões, mas o povo preferia ouvir Bowie, Duran Duran e Van Halen. Não os culpo. Não eram racistas, apenas tinham o hábito de jamais considerar a música negra. Black Music era POP, só POP, sem verniz de arte. Fim de papo. Me lembro de numa discussão em sala de aula, sobre cultura popular, vários rostos se viraram em minha direção com risinhos, quando falei que Prince era um gênio. Que para perceberem seu tamanho, bastaria imaginar o que pensariamse se um branco fizesse o que ele fazia. Lembro que em 84 eu ouvia música pra caramba. Foi o ano de Bruce Springsteen, de New Order, do Culture Club e das bandas dark que eu dançava à noite no Satã. Mas PURPLE RAIN era o Pet Sounds do ano. Prince era negro e branco. Era homem e mulher. Era rock e funk. Era isso que o povo mais cool dizia. Era isso o que eu falava. Não ouvia o disco desde os anos 80. É daqueles discos, como Dark Side of The Moon ou Thriller, tão consumidos, tão digeridos, que é impossível voltar a sentir seu frescor. Quantas vezes o escutei em casa? 300? Quantas vezes ouvi suas faixas no rádio? Mil? Quantas vezes os clips na TV? Prince não tinha limites. Essa era sua missão. Se os dois monstros POP dos 80 foram MJ e Madonna, Prince unia os dois. Sexo como Madonna. Negritude como MJ. Em Purple Rain ele toca todos os instrumentos. Poderia ter sido um dos maiores guitar player da história, mas sua viagem era outra. Lets Go Crazy é uma das melhores aberturas de qualquer disco de qualquer tempo e estilo. Emenda com Take me With You, um tipo de sonho psicodélico que atualizou LOVE e Beatles. É linda de fazer amar. The Beautiful Ones é 100% negra. Falsete Marvin Gaye e desespero soul. Computer Love é POP e Darling Nikki é sexy, sexy, sexy, deliciosa. Na época se falou em Zappa. Não! É George Clinton BB. Doves é tão conhecida como Hey Jude. A gente não consegue mais prestar atenção. I Would Die For You mantém a tensão que explode em Star, uma festa black. No fim, Purple Rain, um hino, Purple Haze da geração seguinte. Prince dizia ter feito pensando em Bob Seger, uma balada à Seger. Pra quê vou dizer que é um disco perfeito? Voce sabe disso. Foi a lista da Rolling Stone que me fez o reouvir. Miles Davis queria gravar todo um disco com Prince. Não rolou. A partir de 1988 Prince começaria a pirar. Ele entrou na mesma viagem de Brian Wilson ( em parte ), ter de ser melhor que si mesmo. Brigou com a Warner, mudou de nome, não conseguia deixar de provocar. Em certo momento dos anos 90, tudo que era dos 80 foi rebaixado. Prince foi um dos que mais foi injustiçado. Eu sabia que ele daria a volta por cima. Eu vira outras décadas virarem. O que é bom sempre retorna. Mas ele havia perdido o interesse genuíno. E sua arte só podia ser plena se feita com o máximo de paixão. Prince deixou 3 albuns perfeitos: este, 1999 e Sign o The Times. E mais alguns muito bons discos: Parade, Dirty Mind, o Black Album. Ouça.