ESPAÇO DENTRO DE CASA

Henry James escreveu no começo do século XX suas lembranças da Itália. Um dos fatos mais interessantes é quando ele discorre sobre o espaço interno nas antigas casas de lá. James, escrevendo bem como sempre, descreve a alegria e a beleza de se andar dentro de casa. Ele não nega a beleza superlativa da paisagem campestre da Toscana ou da Emília, mas nada supera a emoção espiritual de se andar por uma longa galeria ou poder tomar posse de uma sala imensa. Não há em todo o mundo nada que se compare remotamente à imensidão das janelas e sacadas da Itália em seu explendor. Cômodos repletos de armários do tamanho de uma sala. Afrescos, tapetes, estátuas, vitrais, tudo criando a emoção de uma renovada descoberta. Estar sentado num sofá e observar a luz do outono cair sobre uma mesa, distante, no portal de outra sala. O eco dos seus próprios passos. O cheiro de objetos escondidos. A cada passo uma nova luz. Henry James percebe, claro, a decadência estética da nova Itália. O mal gosto das roupas, as novas casas minúsculas, o campo sem flores. Ele imagina o quanto as pessoas de 1700, 1750, ficariam espantadas com a feiúrua da Roma de 1905. Mas, ao mesmo tempo, ele não deixa de se encantar com a fartura das cores italianas, as sombras do fim de tarde... Para voce que me lê, é claro que não tenho como falar da emoção de andar na minha casa. Ela é pequena. Mas peço para que voce relembre...como era andar pela sua casa quando voce tinha 4, 5 anos de idade. A sensação de todo dia estar a explorar um lugar que era sempre o mesmo e sempre outro. A luz na sala que mudava da manhã para a tarde, de abril para outubro. O canto escuro debaixo da escada, o interior do guarda roupa, o quintal com insetos desconhecidos. O espaço dentro de casa é o nascedouro do mundo dentro de voce mesmo. Admirar o tamanho de uma sala é dar à sua alma o espaço que ela precisa. Ecos de quem se explora, sombras de quem se procura conhecer.