O CASTELO MAL ASSOMBRADO E OUTROS CONTOS - E.T.A. HOFFMANN. O PONTO MÁXIMO DO ROMANTISMO.

Ao contrário do que muitos pensam, existem pouquíssimos filmes genuinamente românticos. Um dos motivos é que a alma romântica é acima de tudo, solitária, e o cinema é a mais socializante das artes. Milhões de filmes falam de amor, ou são góticos, ou falam de uma vida romântica, mas muito raros são aqueles que são feitos dentro de um espírito romântico. O Atalante é o maior exemplo dentre todos. Michael Powell fez um filme chave chamado OS CONTOS DE HOFFMANN, baseado o roteiro numa ópera de Offenbach que por sua vez se baseia no autor alemão. Vejam o filme se quiserem entrar no clima. Powell consegue parecer romântico. Não só nesse como em The Red Shoes. Der Sandmann é o primeiro conto do livro. Freud tinha fixação por esse conto. O vienense dizia estar no conto a primeira discrição consciente de uma neurose. Hoffmann fora o primeiro homem, antes do próprio Freud, a entender que fantasmas, medos súbitos, loucura, histeria, não eram manifestações de fora, mas sim criações de estados mentais. O horror não era uma ação externa, nem um ato da natureza, era reflexo daquilo que vivia dentro de nossa alma. Sandmann fala de um homem que tem toda sua vida destruída pelo medo do Homem de Areia. Ele crê desde criança nesse homem do mal, e assim faz com que para ele o Sandmann seja real. Hoffmann é grande escritor e nos deixa sem saber se o advogado era de fato o mal ou se o pobre personagem é que o via como tal. Hoffmann além de escritor foi músico e pintor, e foi ele quem chamou a atenção da Europa para a genialidade de Beethoven. Mas seu ídolo era Mozart, e temos dois contos sobre música. Em um deles há a aparição de um fantasma durante uma apresentação do Don Giovanni. No outro é a própria música que surge como algo do além. O último e mais longo conto é o que dá nome ao livro. Engenhoso e sempre irônico, Hoffmann mostra o crime como desencadeador de maldições sem fim. Sua influência sobre Poe é imensa. Mas Hoffmann é bem melhor. Poe parece sempre apressado e às vezes se repete. Hoffmann escreve bem. Otto Maria Carpeaux na sua HISTÓRIA DA LITERATURA OCIDENTAL coloca Hoffmann nas alturas. Para ele foi o alemão quem criou o romantismo em prosa. Deu nascimento a Walter Scott e Gogol. Li-o com grande prazer. Quero mais.