MEMÓRIAS DE GIACOMO CASANOVA
Divertido. Muito divertido. Casanova não tem sangue nobre, mas vive entre eles como um deles. Seu dinheiro vem de um benfeitor e do jogo. Pode-se dizer que Casanova é um jogador e portanto o amor é para ele uma questão de apostar e vencer.
Para quem tem por volta de 20 anos, é Casanova ainda sinônimo de conquistador? Para minha geração ele é um mito. Há quem ache que ele foi uma lenda, tão imaginário quanto Robin Hood ou Arthur. Mas ele foi real sim, um símbolo dos costumes do século XVIII. Veneziano, ele era mezzo iluminista mezzo monarquista. O centro de sua vida é a mulher e o modo como ele as seduz pode te chocar, mas pense bem...mudamos tanto assim?
O que há de mais chocante é o modo como Casanova trata algumas de suas conquistas. Para as mulheres pobres apenas sexo e desprezo, para as ricas, romance e depois a vida que segue. Dá incomodo forte uma história em que ele pouco se importa com uma possível gravidez. O filho, se vier, que seja dado ao asilo. Sinto asco, mas penso com lógica: Quantos homens ricos eu conheci que já namoraram ou tiveram algo com uma mulher da favela? O abismo de classe mudou? Onde? Quantos não tiveram uma noite de sexo em um baile e depois, por ela ser pobre, cortaram qualquer chance de futuro? Filho? Hoje não se usa o asilo, se paga um aborto e se esquece o caso. Sim meu caro, eu gosto de pensar que o homem não mudou tanto assim. Basicamente somos sempre o mesmo.
Choca também, mas isso eu já sabia, a liberalidade sexual do século de Casanova. Amantes emprestam amantes, namorados se excitam vendo sua amada transar com outro, lesbianismo como parte da educação sexual, freiras devassas, mocinhas de 15 anos espertas, masturbação. É um mundo sem escrúpulos sexuais, mundo que seria censurado, por pouco tempo, pela tal moral burguesa do século XIX. Não se engane leitor, toda pessoa que hoje prega a total liberação sexual é inconscientemente um saudosista. Ele tem a nostalgia do tempo de Casanova. Sexo anônimo em Veneza, entre mascarados, eis algo bem comum na época. Casanova chega a pedir que uma de suas amantes transe vestida de menino. Muito moderno esse italiano!
O livro que leio é apenas o volume dois de suas memórias. No total são cinco volumes grossos. Aqui ele tem entre 24-28 anos. Como toda a elite de então, ele é um homem da Europa. Está em casa na Russia ou na
Espanha, em Viena ou em Paris. Não há fronteiras, não há passaporte, não há patriotismo. Ele é súdito de Veneza porque ama a cidade e ama sua casa real. Apenas isso. Suas memórias são as histórias de alguém que viaja.
Romance? Sim, ele ama e sofre pelas mulheres. Mas nada dura muito. Seus casos mais longos vão do verão ao outono. O que o atrai numa mulher: a beleza. Casanova ama a beleza da mulher. Para ele, em todo
universo, nada se compara a uma bella donna. Mas o livro não é só isso, Casanova é digno de sua época, ele sabe um pouco de tudo. E curioso.
Delicioso.