JUSTINE - LAWRENCE DURRELL
Talvez voce não saiba, mas nos anos 60 era lawrence Durrell um dos cinco escritores mais famosos do mundo. Ainda em 1984, seu Quinteto de Avignon foi um dos acontecimentos literários do ano. Morreu em 1990, velho e rico, sempre irriquieto. Como Paul Bowles, Durrell foi um desses saxões que correram mundo atrás do sol. Inglês, ele se apaixonou pelo Mediterrâneo, mas não o lado chique desse mar, seu mundo era o lado árabe. Justine se passa em Alexandria e inaugura seu Quarteto de Alexandria. Este livro foi best seller em 1958. Bons tempos em que num ano o best seller era Nabokov e no outro Durrell ou Bellow.
Justine conta a história de um inglês que vive no lado paupérrimo de Alexandria. O livro não especifica, mas parecem ser os anos 40. Esse inglês se envolve com uma dançarina do lugar e depois se apaixona por Justine, uma ninfomaníaca casada com um árabe rico. Ela é uma terrivelmente auto destrutiva seguidora do gnosticismo. O mundo do livro é repleto de gays, lésbicas, cirandas de sexo. O estilo é solto, nunca sabemos onde estamos e para onde vamos, o tempo retrocede, avança, para e acelera. Fala-se da gnose, da Cabala, mas o clima é de descrença, dúvida e muito desespero. Não é leitura de prazer, Durrell é difícil, negro, pegajoso, não busca a beleza, ele busca o não morrer. Há calor aqui, mas nunca sensualidade.
Durrell relaciona sexo com espírito. A paixão como morte da alma. Na gnose toda a vida da matéria seria um erro, o mundo material como criação de um anjo renegado e não de Deus, que teria criado a alma mas não o mundo visível. Paixão e sexo são matéria e portanto fadados sempre ao erro e a tristeza. Isso é Justine.
Se voce usar cadernos culturais de jornal como guia de leitura jamais irá chegar à Durrell. Este não é meu livro favorito dele, mas procure nos sebos da vida.