QUARENTENA

   Tenho colega que não consegue esconder sua felicidade. Desde o começo da pandemia ele anda como que aos pulinhos, soltando piadinhas, um sorriso eterno. Sua alegria se esparrama na certeza de que o presidente está destruído. Para ele, nada supera essa felicidade. Para ele, o Brasil tem um dono, o presidente, e ver o país ser destruído é ver o alvo de seu ódio ser destruído. Eis o pensamento subdesenvolvido que não nos larga: o presidente, o rei, o chefe é o país. Ele é o dono.
  Durante anos eu lutei para não ver o Brasil como o país do Lula. Isto era mais que ele ou seu partido. Eu realmente torci para que a Olimpíada salvasse o Rio e para que a Copa civilizasse a nação. O futuro ia além do Lula ou de seu partido e foi assim que me coloquei. Tentando sair do pensamento primário do "este país tem um dono".
  Essas pessoas não percebem que o presidente é apenas um homem. Bronco e falível. Continuam pensando que o presidente é o país. O presidente é apenas o homem que foi eleito. E se eu o defendo, e tenho feito isso, é porque vejo nos ataques uma sanha homicida. Não se ataca uma ideologia. Não se ataca um modo de gerir a economia. Se ataca apenas uma pessoa. E com isso se corrompe o país inteiro. Viciados na ideologia do "presidente é o Brasil", atacam todo o governo, que é bom, todo o ministério, que é bom, todas as ideias, muitas ótimas. Defendo o presidente não por gostar dele, mas por temer a estagnação. O retorno do congresso comprado e calado, e da imprensa amortecida com investimento estatal.
  A presidência caiu no colo desse bronco graças à vaidade da esquerda. E a sua infinita incompetência. Lula esbanjou dinheiro enquanto o país era o nome da moda. Lembram? Os BRICS? Entregou o governo para uma pobre tonta, bronca como o bronco, que mal sabia o que estava lá fazendo. Cheios de empáfia, acreditaram que seriam eternos, e que um poste poderia ser eleito mais uma vez. Bolsonaro chegou ao poder por acidente. Felizmente algumas pessoas de brilho estão o ajudando. Felizmente seu vice é um militar esclarecido e muito calmo.
  A emissora central do país não esconde sua raiva. Neste momento terrível não perde a chance de rir de uma máscara mal colocada ( isso importa? ), uma frase mal falada ( ele nunca foi eleito por ser como o FHC ), por um impulso impensado ( ele é do tal povão, esse troço que a emissora diz defender ). A cobertura da emissora é toda voltada a alarmar, esperar o pior, assustar, confundir, contradizer. Dos jornais não falarei pois ninguém mais os leva á sério. Quem ainda os lê faz por hábito e por uma ou duas colunas. Nada mais que isso.
  O Brasil vai falir e isto é uma guerra. Simples assim. E quarentena, para um povo que vive em casas apertadas e não gosta de ler, é uma coisa dolorida.
  Para terminar: durante a guerra Churchill era terrivelmente sabotado pelos radicais de esquerda e direita. Uns torciam pela destruição da Inglaterra e a futura formação de um país comunista; os outros torciam simplesmente pelos nazistas. Eu sempre achei que havia aí um exagero. Que não podia ter sido assim. Agora vejo que foi. Para certas pessoas o ódio vence sempre.