O SOM DOS ANOS 80 E DE HOJE.

   A gente estava na Europa em 1982 e foi um momento brilhante aquele. Naquele verão os anos 70 acabavam enfim. A primeira coisa que estranhei foram os jeans. Não havia jeans. Se voce quer saber como a molecada se vestia na Europa em julho de 82 veja o clip que postei acima. Continuo: fomos para o interior do interior do continente. Ou seja, norte de Portugal, quase Galicia. Quarenta graus, aridez, pouca gente. Uma festa na cidadezinha de meia dúzias de ruas. Eu e meu irmão vamos. Uma feira de tarde. Barraca de discos. Que surpresa!!!!! Tem tudo que aqui no trópico não tinha ( e na verdade nunca teve, nem em cd ): Talking Heads 77, Gang of Four, Classix Nouveaux, Ultravox, John Foxx, Toyah Wilcox, Orange Juice, Haircut One Hundred, Adam Ant e Bow Ow Ow. Compramos. Era a época do Escudo. Um escudo era dez cents de dólar. Eram discos made in Portugal e made in France. Tenho até hoje. Andamos pelo local...meninas de enormes franjas cobrindo os olhos. Meninos com calças de mulher: laranja, roxo, pinky. Bebemos ginja.
  Na sala da minha tia tem um programa de música POP ao vivo. Um palco cheio de luzes, cores e brilhinhos. Era o nascimento da década e ela só nasceria no Brasil em 1984. E aqui ela seria para meia dúzia de moradores de bairros legais. No fim do mundo português era fenômeno popular.
  Na época eu não era fã do Roxy Music e pouco entendia de Bowie. Ouvia-o desde 1974, mas era pra mim só um rock star gay e criativo. Então não pude notar que ele e Ferry eram os vencedores do década passada. Entre 1980-1987 o POP e o ROCK que importava eram, em 90% dos casos, filhotes do glam e do funk chic.
  Chego de volta a 2018 e escuto o disco Duran Duran, o primeiro. Para mim, é a coisa mais fora de moda que existe. Teclados gelados e simples, baixo funkeado ( John Taylor é um gênio do ritmo ), guitarra exagerada, percussão lá em cima, tudo a cara do POP dos anos 80. Mas caramba!!!! Ouço uma multidão de "novas" bandas de 2018 e um monte tem esse mesmo som, mas, COM UMA DIFERENÇA: eles tocam muito, muito mal. Daí dou razão à Neil Young. O fato dos novos sons serem gravados em aparelhos ruins para se reproduzir em condições precárias, faz com que toda uma geração seja acostumada a ouvir música pobre. É um tchuc tchuc prás sem nenhuma sutileza.
   Por isso esse vinil me surpreendeu desta vez. Fico embevecido com a riqueza sonora. Tem centenas de coisas para se escutar, sons que vão e que voltam, timbres que surgem e morrem, ecos sem fim.
   A criação do LP em 1948 fez nascer o som de Sinatra, e depois o jazz adulto. A tecnologia dava campo para eles. O estéreo deu nascimento aos sons dos Beatles e todo o rock psicodélico. Os estúdios de 64 canais ensejaram o POP dos anos 70, com seus montes de músicos profissionais. A fita K7 criou o fã de bandas toscas e o CD fez nascer a dance e o eletro. Cada salto científico faz surgir um novo modo de ouvir e de fazer música popular. E faz se abandonar outro modo, antigo, de produzir e compor. O tempo do Ipod e do Spotify, do mp3, fez surgir o som sem sutileza, que luta contra o ruído das ruas e a pressa do ouvinte. Se compõe para essa tecnologia. Singles de 3 minutos. E só.