AS AULAS QUE NÃO SE REVELAM

   Avicena é tema de um dos cursos que faço agora. O professor é ótimo e o filósofo, médico, físico árabe é fascinante. Com 12 anos ele já era um mestre. Escreveu uma enciclopédia que resumia todo o saber da época. No ano de 800 de nossa Era, ele já era um renascentista.
  Ótimo. Só que quase não. Uma coisa me incomoda. A renúncia absoluta do professor e dos alunos em citarem a palavra "Deus". Avicena dizia que somos existentes mas não a existência. Que dentro da existência existiam minerais, plantas, animais e humanos, estrelas e o sol, a lua e a terra. Nós temos uma existência que se manifesta na nossa capacidade de pensar o imaterial. Com a mente criamos coisas que não possuem matéria: ideias. Vivemos dentro da Existência, uma substância sem tempo ou sem começo, dentro da qual todas as existências vivem e morrem. Nosso corpo, como um rádio, deixa de funcionar, mas a existência, como a onda que dava voz ao rádio, continua no universo. Pois bem, meus colegas conseguem falar nesse Existente sem jamais admitir que Avicena falava de Deus. Haja ginástica verbal e mental pra isso!
  Faço também um curso de literatura da Irlanda do Sul e os professores estão conseguindo falar de literatura sem jamais falar de escrita ou de imaginação. Na primeira aula se falou da imigração irlandesa, na segunda aula da condição das mulheres em países católicos e agora se fala do fato dos escritores irlandeses terem fugido do país. Aff...